terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Hipócrita do Ano

Sai ano, entra ano e a cada dia eu me surpreendo menos com tudo.

Repetir os mesmos erros. Principalmente os que mais condeno. Criar mais e mais motivos para escrever, voltar aqui e despejar toda minha ira.

Você acha que é diferente, acha que agora as coisas vão mudar, que tudo vai subitamente ficar melhor. Porém olha no espelho e depara-se com o reflexo de tudo que mais abomina. Tudo o que mais odeia.

E todo esse tempo nutrindo essa raiva só serviu pra perceber: você é idêntico ao seu pior inimigo.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Fôlego

E os corredores estreitos e escuros vão se fechando sobre mim enquanto tento achar uma saída com uma fonte de luz que mal ilumina meus próprios pés. E as dezenas de bifurcações e caminhos a tomar, as paredes sangrando alcatrão e sonhos abandonados. Os amigos, inimigos, santos e pecadores. Você, o fogo descendo a serra, a chuva que vem de repente, a raiva que queima por dentro como fósforo e enxofre.

Já não faz mais diferença. Desatei todos os nós.

Poupo meu fôlego antes de mergulhar nesse Oceano escuro e incerto. Não é mais no seu mar que vou me afogar, são as minhas águas frias que vão me levar até a costa dos mais distantes territórios. É nadar ou afundar e morrer.

Não se preocupe, ainda posso prender a respiração por muito tempo. Meu fôlego dura mais que sua palavra.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O Mar, o Rio, a Montanha

O cenário é desolador e solitário.

Desolador pelo surrealismo e pela rapidez de todos os eventos. Naveguei uma imensidão de Oceanos. À deriva. Sempre. Nunca pensei em voltar, mas nunca realmente soube onde estava indo. E ainda sigo meu rumo, às cegas, deixando o vento e as ondas me levarem ao meu destino. Desolador por não haver sinal nenhum de terra por perto. E a minha única escolha é continuar navegando.

Solitário pelo fato de não me sentir completo. Acredito que nunca estive tão cercado de pessoas. Nunca conheci tanta gente, nunca tive tantos amigos, nunca me senti tão amparado por outras pessoas. Mas parece que estou imerso nesse mar de rostos. Ainda me sinto sozinho. Ainda sinto como se ninguém pudesse me ouvir. Solitário por lembrar que já não foi. Solitário por achar aquele fio de cabelo há meses escondido no guarda roupa.

Eu estou sempre falando demais, pensando demais, sentindo demais. Em determinado momento, todas as correntes desaguam no mesmo ponto e a água desce da montanha com força o bastante não só pra apagar os incêndios, mas para destruir tudo o que o fogo não conseguiu. E a corrente é sempre ensurdecedora, brutal, implacável.

E é bem verdade que tenho tentado, sem sucesso, falar comigo mesmo. Mas estou sempre falando tão alto que não consigo me ouvir.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Dear Corday

And your lie still cuts

Just like that plate with it's sharp ends
Or the stitches for you to make amends
How you're still whispering your fake love
like there was nothing up above
With the same words you used to
say to me when i was in love with you

I feel it aching in my stomach
This rage crawling up inside me
There's no way of turning back now
You can't walk away from your sins

Between saints and murderers
Faithless living in regret
The unoriginal Corday
The gift i'll never forget

The six inches of the blade
Droven so tightly through my heart
And at that point of my decay i see
You're a pretender from the start

And how can you still sleep?

I pray to God everyday
To send me as a ghost
To be there just to haunt
At your cell at the death row
While they're sharpping up the blade
That will make your head fall and roll

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Vida e Morte de um Cavalo de Corrida

Como cavalos de corrida, nascidos, criados e treinados para isso, nós competimos. Enjaulados e edificados com a cultura da raiva, do medo e do terror, competimos.

O único momento de liberdade são os poucos segundos na pista e a glória na linha de chegada. Por um segundo, tudo o que podemos ouvir são nossos cascos batendo no chão, levantando a poeira, estremecendo o mundo.

A base de euforiantes, anabolizantes e hormônios, nós competimos.

Numa sociedade que nos pressiona a sermos os melhores, nós competimos.

E nunca é o bastante, sempre temos que vencer mais e mais. E passamos a vida inteira correndo sem chegar a lugar nenhum. Mesmo assim, competimos.

E no final, o prêmio é sempre do jóquei.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

It's the Shortest thoughts that Haunt me The Most

I
 
"You'll never break me down i swear. I´ve learned by the hard way. You can never run from your mistakes. So i'll paint my memories with lust. And with all the songs we sing along. Cuz we forgot where we came from."



II.
 
"There's a Fire burning Low and low

The music playing on and on 
Metastasizing fast
The life that we lead
The cause we don't care
Who said this game was fair? "

 

III.
 
"The sky is falling above. Hell awaits you bellow. It's swim or sink."

 


IV.
 
"The world outside is an inaudible whisper pressing down your throath keeping you from screaming. Locked inside yourself you wait for anything to give. You need for acceptance will end with you hanging on the ceiling fan. It's cold outside; stay here for the morning. It's gonna be okay, stay inside, it's warmer. Your fears had taken control over you. It's breaking you down. It's breaking it through. I don't want to watch you waste your days comfortably choking. I can't watch this while you fade. The prison that makes you safe is killing your freedom in the end."

 


V.

"While we're discuting science politics i held on every argument cuz' i couldn't let you know i don't know what it means. This is a problem for me to solve but i just can't get through this alone. And we pretend we know each other. Just like the bone under our skin. Just like the tar marks on the ashtray, Like the broken-heart disease. And someday we will watch this bridge fall down as a sign that we could start again. To live our stunning brand new lie. My worst enemy - My closest Friend."

sábado, 14 de dezembro de 2013

Dois Mil e Treze

Vou tentar resumir esse ano que foi crucial, solitário e complicado. Talvez Dois Mil e Treze seja o divisor de águas, mas não consigo olhar pra frente e ver o futuro com bons olhos.


Janeiro

"Just stop and smell the stale stench wafting through the air
Let it wheeze right out of you
Cause you are lost and you no longer care
About the things you used to
You're fluid, unaware
We overflow going nowhere"



Fevereiro 

"Well i've been afraid of Changing
'Cause i've built my life around you
But time makes you bolder
Children get older
I'm getting older too"



Março

"You cried in Front of your friends
Jus to save some face
You 'didn't want it to end'
In just a week i'm replaced
You wouldn't listen, listen to me
But can you hear me now
You're just a sickness and the cancer
The cancer is your filthy mouth"



Abril

"Hate in these veins all again
And all that it leads to is sin
Fuck what you told me
it all leads to smoking
alone in my room in the end
And that's when i knew i was dead
Worried and sick from all that you've said
Thank God i'm leaving
All your Deceiving
You broke me with your ignorance" 



Maio

"One last desperate plea. One last verse to sing. 
One last laugh track to accompany the comedy.
Have I been losing it completely? Losing sanity? 
Or has it been fabricated, fashioned by the worst of me?
I know I knocked the table over because I watched the jar break 
and I’ve been trying to repair it every single stupid day 
But won’t the cracks still show no matter how well it’s assembled 
can I ever just decide to let it die and let you go?

All my motives and every single narrative below reflects 
that moment when it broke and will I never let it go
No matter what? Now I am throwing all the shards away, 
discarding every fragment, and fumbling uncertain towards a Curtain call 
that no one wants to happen, 
that no ones going to clap for at all, but that still has to be."



Junho


"I'm not sad anymore,
I'm just tired of this place,
And if this year would just end,
I think we'd all be okay"




Julho


"As they laid 
my bones down at the crossroads, I saw my ghost 
sell my soul to the inferno for petrol to get home. 
Now each day 
I sink a bit faster into my father's fate. 
Four packs a day. Four decades straight. 
Right to an unmarked grave. "


Agosto

"In the end it's not about what you have.
In the end it's all about where you want to go
And the roads you take to help you get there.
I hope you think that's fair
Cause you’ve only got one life to lead.
So don’t take for granted those little things.
Those little things are all that we have."


Setembro

"These vices, they double as a reason for the way we feel, the way we do.
Solitude in a family-filled living room.
And I, and I, I wish that they could see, 
The impact made on the children that they raised. 
(We share something I wish we didn't, 
we share something I wish that I could put to an end. 
This life of addiction led, the common thread.)"


Outubro

"E se não tem mais certeza de estar tudo bem
Eu não sou resposta de nada e nem de ninguém.
E nem sei muito bem o que eu faço aqui
Mas só não pude evitar de vir dizer olá"

Novembro


"She hopes I’m cursed forever to 
Sleep on a twin-sized mattress 
In somebody’s attic or basement my whole life,
Never graduating up in size to add another
And my nightmares will have nightmares every night
Oh, every night. Every night."


Dezembro

"You used to make me feel like I could walk on water
Now most nights I'm just sinking down and down
You're the reason why I can't listen to the same songs I used to
I write songs about you all the time
I bet I don't run through your mind..."



"It's been a lonely year"


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013



Ah, velhos amigos das poeiras cósmicas mais antigas, se soubessem que me jogaram com regras invertidas, sozinha, neste Planeta
 que passa por uma Era de caos em sua glândula pineal,
Onde até mesmo as tão procuradas belezas naturais estão recebendo as influencias dessa Guerra Entre Nós mesmos,
E que neste período de tempo, muitos se orgulham de participar,
Tantos são os diferentes estereótipos contaminantes
que já se enganam entre os amigos, entre nossa própria mente.
Joga-se sozinho e sem mapas, só deixam um cartaz dizendo para seguir em frente correndo contra os estados dormentes
que iniciam-se abandonados em um abismo escuro de mil metros com uma subida inconstante, mas gradual, que dura quase a vida inteira
É cheia de paradas inesperadas, inusitadas, inconvenientes  e perturbadas
Até que se mude degrau acima.
Ah, Se soubessem como a vida aqui é agitada, como a dita montanha russa funciona para todos os sentidos,
estampada na rosa dos ventos de qualquer horizonte
E por mais que não tenhamos a presença tão próxima dos imensos corpos celestes passando entre nós  e causando um show de Fogos de Artificios quando se chocavam com alguns vizinhos;
Nem as correntes elétricas diagonais de Monzalia 124 e nem as Grandes Marés de Ondas Radioativas
Sabemos que ela está lá, longe, acontecendo só onde os astronautas podem ir
E lá que o fundo de todos os corações querem chegar
E como poucos podem ser astronautas,
Começaram a sonhar que é o verdadeiro Mundo Inicial, a mais velha casa da existência,
Donde se alcança após a Morte,
Ou após a diária enganação da Morte, quando o corpo descansa e o espírito voa nos sonhos.
Ao destruirmos nossos átomos por um instante
Durante as tentativas de reconstrução

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Doze Anos

Queria escrever uma retrospectiva desse ano. Dois mil e treze foi um dos anos mais emblemáticos da minha vida. Mas para qualquer pessoa entender, precisaria primeiro fazer uma retrospectiva dos últimos doze anos e não dos últimos doze meses. Assim dá pra entender como eu me sinto em relação a tudo.

Assim, resolvi escrever doze pequenas histórias da minha vida que aconteceram nos últimos doze anos. É algo bem pessoal e talvez seja burrrice expor isso tudo aqui, mas eu não estou me importando. Na verdade, acho que o maior covarde é aquele que tem medo de que as pessoas descubram o que ele realmente pensa da vida. Posso ser burro, mas covarde eu não sou.

Enfim, lá vai

2001

Era feriado de Sete de Setembro, meus pais haviam acabado de se divorciar, passávamos o fim de semana prolongado num sítio da minha tia em Cajuru. Eu costumava brincar sozinho quando era criança, tinha uma porção de amigos imaginários e criava incríveis situações na minha cabeça. Não me julgue por isso, eu tinha nove anos de idade. Mas faço isso até hoje, agora pode julgar.

Eu subi numa das árvores do Pomar, sozinho, longe de toda a família e fiquei lá pensando na vida. Até cair no sono encostado num galho. Acordei algumas horas depois com todos desesperados me procurando. Acharam que eu tinha caído na represa, sido sequestrado ou coisa do tipo. Quer ver o quanto alguém te ama? Só pensa na cara da pessoa quando ela finalmente te encontra depois de achar que nunca mais iria te ver. Mas até hoje, duvido que alguém tenha me encontrado.

2002 

Eu estava na Quarta Série quando começamos a estudar os astros do nosso Sistema Solar. Foi quando notei que tinha pequenas obsessões. Primeiro, fiz questão de decorar o nome de todos os planetas. Depois, de todos os ossos do corpo. Depois, queria ouvir todos os discos das minhas bandas favoritas. Até hoje procuro saber tudo possível sobre qualquer coisa que eu goste ou não.

Muita gente acha que é nerdice, mania de querer pagar de sabichão, mas na verdade é como um vício. Pra cada fase da minha vida, tive uma pequena obsessão diferente. É quase uma dependência. Não consigo gostar de nada sem me aprofundar.

2003 

Então com onze anos, assisti "O Clube da Luta" pela primeira vez. Não entendi nada e achei o filme totalmente imbecil. O então "novo" Gangues de Nova York de Martin Scorsese era meu filme favorito e tive uma das minhas primeiras obsessões: gângsters. Com eles veio a obsessão por armas de fogo. Enquanto os outros garotos se divertiam com a matança desenfreada de Counter-Strike nas Lan Houses, eu achava mais divertido ver as armas e comparar seus modelos com os reais. Acredite ou não, isso foi muito determinante para o ponto de vista político que tenho hoje.

2004 
Também fui obcecado pelo sobrenatural. Minha mãe tinha (e ainda tem) muitas histórias sobre espíritos, fantasmas e assombrações. A que eu mais gostava era a dos quadros das crianças que choram. Aqueles mesmos do Bragolin e do Fantástico. Era fascinado e amedrontado pelos quadros. Tiraram meu sono por noites e noites, mas adorava conhecer mais e mais deles. Procure no Google que via achar. Hoje não acredito em porra nenhuma em relação a espíritos ou fantasmas e qualquer coisa, mas confesso que não consigo olhar por muito tempo pra nenhum daqueles quadros. Até hoje tenho medo de quadros de qualquer tipo. E de espelhos.

2005 

Era dezoito de Dezembro, meu ídolo máximo, Rogério Ceni só não vez chover no Estádio Nacional de Yokohama fechando o gol tricolor. Estávamos eu e um dos meus dois melhores amigos então, sentados na frente do Sofá e tirando as bolas da meta tricolor. Ele era Santista, mas por causa de mim, estava torcendo pro São Paulo naquele dia (O São Paulo Futebol Clube, é certamente, a maior das minhas obsessões). Depois do fim do jogo e muita festa, meu pai apareceu bêbado na porta de casa e minha mãe chamou a polícia. A maioria dos meus amigos viu meu pai pela primeira vez naquele dia. Algemado dentro de uma viatura.

2006 

O meu outro melhor amigo fazia aulas de violão comigo no ano de 2006. Toda Terça Feira voltávamos correndo da escola para recebermos o professor César na minha casa. Ali, num violão velho e com braço empenado, aprendi meus melhores acordes. Mas ele era melhor que eu tocando. No começo, tive muita dificuldade. Em meados de Maio, perto do meu aniversário, quis desistir. Ele brigou comigo e praticamente me obrigou a continuar. Somos melhores amigos até hoje. ainda somos músicos (embora, amadores) e agradeço a ele por não ter me deixado desistir de uma das coisas mais importantes da minha vida.

2007

O meu outro melhor amigo - O Santista - foi internado em estado grave com Lupus no Hospital das Clínicas do Campus da USP aqui de Ribeirão Preto no dia 16 de Dezembro de 2007. Minha mãe trabalhava lá e me ligou pra avisar. Disse que eu poderia visitá-lo se quisesse. Eu até podia, até queria, mas precisaria que meu pai me levasse e não quis pedir pra ele por um orgulho idiota pois tínhamos brigado naquela semana. Meu amigo morreu no dia seguinte e não tive a chance de vê-lo uma última vez. Meu maior arrependimento foi não ter feito a porra da visita. Nunca derrubei uma lágrima por isso, mas escrevo uma carta para ele todos os anos nessa data. Não acredito em vida após a morte, mas gosto de pensar que ele consegue ler.

2008 

Nessa época, minha mãe fazia Plantões à noite no hospital. Como eu estudava à tarde, a gente pouco se via dentro de casa e eu sentia muita falta dela. Então, toda noite, fazia uma garrafa de café e ficava acordado a madrugada inteira esperando ela chegar. De manhã, tomávamos café juntos (eu tinha que fazer outra garrafa para nós dois) e ela me contava sobre o trabalho e os causos estranhos do sexto andar do Hospital das Clínicas. EU dormia o resto da manhã e durante a aula (quando eu ia). Meu sono nunca mais foi o mesmo, mas não me arrependo nem um pouco. Hoje minha mãe mora em São Paulo e eu morro de saudades dela. E essa é a mais doce lembrança que tenho.

2009 

Elaborei, então, um plano detalhado para atirar em todos os colegas de classe do terceiro ano. Era tudo muito bem organizado. Eu havia até cronometrado o tempo que levava para sair do banheiro, andar pelo corredor e entrar na sala numa caminhada moderada. Tenho passos muito largos e ando muito todos os dias. Então estou habituado a contar isso. Eu tinha a ideia de fazer isso numa Quarta Feira onde a grade de horários ajudaria na excecução. Nunca fiz porque não tinha uma arma.

2010 

Meu aniversário de 18 anos foi o pior de todos eles. O ano de 2010, em si, foi uma porcaria. Mas teve um momento muito marcante na minha vida. Foi em Julho e eu estava assistindo um certo filme que quem manja conhece. E nesse filme um personagem dizia que conhecer o amargo lhe permitia saber apreciar o doce. Lembro que na época só consegui pensar: "To esperando conhecer o doce até hoje".

2011 
Eu voei pela primeira vez em 26 de Janeiro de 2011. Venci um dos meus maiores medos: a altitude. Consequentemente, ganhei meu maior medo desde então. Lá de cima, vendo o mundo tão pequeno, percebi como somos insignificantes. Então percebi que precisaria fazer algo grande da minha vida, algo que deixasse um legado para reverter a minha situação como insignificante. Até hoje, meu maior medo, é passar a vida como um anônimo qualquer que viveu e morreu sem grandes realizações, sem algo para ser lembrado. Apenas um número

2012 

No último dia de 2012, mais uma vez dentro de um avião, fiz a minha última oração. Há muito já não falava com Deus. Há certo tempo, já não acreditava mais Nele. Mas pedi, desesperadamente, que derrubasse aquela aeronave. Como sempre, minha prece não foi atendida. De fato, 2012 foi um ano péssimo na minha vida e, pela primeira vez, senti-me derrotado e sem esperança alguma. Na verdade, até hoje, não sei se alguma coisa mudou de lá pra cá. Ainda nesse mesmo dia, vi a casa que morei por um ano e meio vazia, escura e desabitada. Soube, então, que poderia voltar a morar lá, mas eu também sabia que não seria mais a mesma casa, nada mais seria o mesmo. E senti vontade de incendiar aquela casa só pra não ter aquele souvenier da vida perfeita de outrora. O ideal mesmo, seria o avião, comigo à bordo, ter caído sobre a casa.

Basicamente, essa é minha vida entre 2001 e 2012. Esses doze anos marvilhosos e cheios de aventura com os quais presenteio vocês.

E, no final, tanto faz mesmo

sábado, 7 de dezembro de 2013

A Zona de Conforto

Então me diga: quando foi que resolveu parar a sua vida?

Há anos escondido debaixo da própria pele de onde ouve o mundo la fora apenas como um sussurro incompreensível, mas capaz de de comprimir cada nervo do seu corpo.

Trancado aí, dentro de si mesmo, prefere esperar. Sem nunca se mostrar de verdade por medo de não atender as expectativas, você julga e aponta o dedo de dentro do seu bunker pessoal. Sem se mostrar de verdade, se sente sufocado pela própria necessidade de se esconder, mas também não quer sair porque sabe que lá fora é perigoso.

E a cada dia você morre um pouco mais tentando impedir a própria morte, tentando não correr riscos. EStá seguro dentro da própria pele, mas encarcerado pelo próprio medo.  Como uma maldita zona de conforto onde se sente seguro em não ser você mesmo

A mesma prisão que te tortura é que te protege de si mesmo.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

...

I just... don't know how to be untrue anymore
And all the feelings I can't deny didn't have been passed by the filter of modern ages with sucess Because this filter no longer exist inside me
And doesn't matter If the entire world asks the opposite Because the only way to be true is to deny and to refuse
And more you hidden your true feelings about how sensitive u could be More smart and sucessful u will be
I just don't care if someone explode me cuz I'm on the opposite way
Don't care if they finnish everything cuz it's real
Cuz I can't accept this fake shit about phisic comportament
Cuz I can't accept that the real feelings of our heart no longer exist
Cuz the reality among these futile humans is being proud of emptiness
It is a shame to deny and these people don't deserve any respect

They just deserve shut their mouths full of shit and open their ears and their hearts again
And all torture of this world is enough to see the cause of their blindness

Maybe this way The cure of all the planet can appears
Like a miracle that everyone asks..
But nobody feels

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

As Sete Pontes de Konigsberg

Hyde

Passamos o dia todo discutindo a ciência, a política e a religião. Fingindo que conhecemos qualquer coisa para não admitir que não conhecemos nós mesmos. Cigarro após cigarro, o tempo passou até que você citou a questão Konigsberg.

Uma cidade onde haviam Sete Pontes e muitas pessoas se perguntavam se era possível visitar toda a cidade e voltar para casa passando apenas UMA vez por cada uma das pontes. Me desafiou a resolver o problema matemático e geométrico. Passei dias quebrando a cabeça. Não para resolver o desafio, todos sabemos que não existe resolução - o número de Pontes é ímpar, o número de regiões da cidade é par, é impossível resolvê-lo - O desafio de verdade estava em entender o que quis me dizer com isso.

Se eu sou você, sei de tudo o que você sabe. E sei que encontrou esse desafio por mera coincidência. Sonhou com as Sete Pontes e pesquisou sobre qualquer coisa relacionada. Achou a história e ela fez sentido para você.

De qualquer forma, vamos ter que passar duas vezes por alguma das pontes. É inevitável. A minha maior dúvida é o que levou você a me mostrar aquilo. Você sempre quer me dizer alguma coisa com esses desafios e charadas.

Mas hoje, finalmente entendi.

Na nossa vida, temos que seguir em frente. Mas para encontrar nosso lar, precisamos, muitas vezes, passar duas vezes pelo mesmo caminho, repetir os mesmos erros, viver as mesmas experiências. Então aprendi essa importante lição, mas tendo noção do raciocínio mais profundo de todo o problema matemático:

Você ainda pode explodir uma das pontes.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Intocável

Eu tinha onze ou doze anos na primeira vez que assisti "Os Intocáveis" de Brian de Palma. Fiquei encantado pelo universo de gangsters, policiais, lindas donzelas, belos chapéus, longos casacos. Engraçado como tudo que remete à primeira metade do Século XX parece glamouroso, bonito, saudoso. Ainda mais quando todo esse enredo é esculpido e delineado pela enigmática e bela trilha de Ennio Morricone que já havia pintado, com notas e não com o pincel, a tensa atmosfera de "Era uma Vez no Oeste".

Desde então, me encantei com os Gangsters de De Palma e também com os mocinhos da década de 30, com a história de homens como Al Capone e John Dillinger. Ou  ainda Melvin Purvis. Nunca quis ser um "Inimigo Público" ou um homem da lei, mas invejava a coragem de homens capazes de andar na contramão de tudo. Capone morreu na prisão, Dillinger foi morto pela polícia e Purvis cometeu suicídio.

Embora suas vidas não tenham finais tão felizes na vida real, todos viveram no limite entre a lei, a moral e a ambição. Eram homens sem medo e, embora mortos, pode-se dizer que, historicamente, seguem intocáveis. Reproduzidos, imitados e ilustrados na cultura popular graças à sua coragem, ousadia e até mesmo ausência de apreço à vida, heróis e vilões como esses marcaram seu nome na história.

E é dessa falta de apreço à vida que eu estou falando.

Nos últimos doze meses, tenho andado às margens da vida, sobre estreitos trilhos de metal e madeira sem me importar se algum trem vai me atingir.

Na verdade, eu consideraria até bom se acontecesse.

Vou e volto à noite nas ruas escuras da cidade sem me preocupar com qualquer coisa que possa acontecer. Mais do que isso: eu espero que algo realmente aconteça. Talvez um motorista bêbado perdendo o controle do seu carro, subindo o meio fio e me esmagando contra a parede. Ou um assaltante que resolva levar mais do que minha carteira e meu celular. Eu quase imploro para que me encontrem apagado no passeio, como uma mancha para a qual ninguém quer olhar. Como quando queimei o sofá com meu cigarro e me sinto melhor ignorando a marca preta e esférica no braço do sofá. É bem mais fácil ignorar. E se eu fosse escolher como morrer, seria assim, a saída trágica, o que sobrasse de mim repousaria sobre o pavimento da calçada cercado de policiais, bombeiros e do médico legista.

As mães passariam do outro lado da rua com seus filhos e cobririam seus olhos. A família desesperada com a notícia. Os jornais vendendo a tragédia a quem queira.

"Um rapaz tão jovem, tão cheio de ambições, ainda tinha a vida inteira pela frente."

Mas a verdadeira tragédia é que isso nunca acontece. Sempre chego vivo em casa, tudo acontece 5 minutos antes ou 5 minutos depois de eu estar presente.

Eu não falo com Deus. Não temos uma relação muito boa. Mas me lembro de nossa última conversa. Foi a bordo de um avião ainda decolando no aeroporto em Guarulhos no ano Novo do ano passado. Assim que a aeronave deixou o chão, me curvei e rezei pela primeira vez em muitos anos. E pedi, humildemente, encarecidamente, que Deus derrubasse aquela aeronave. Foi a mais esquisita e minhas preces, mas o resultado foi bem igual a todas as outras: foi totalmente ignorada.

De certa forma, me sinto intocável. Nunca nada de "ruim" me aconteceu. Nunca quebrei uma perna ao cair de bicicleta e nem tive que levar alguns pontos no queixo depois de escorregar na garagem. Nunca fui assaltado, nunca acordei numa cama de hospital com uma sonda no meu pau depois de ser atingido por um carro a 90 Km/h. E o mais irônico disso tudo é que eu queria essa tragédia, eu espero ela todos os dias por isso, eu imploro, eu suplico. Hoje, seria a única coisa capaz de me fazer sentir vivo.

Mas sou ignorado. Pois sou invisível. Sou intocável.

As pessoas morrem todos os dias das maneiras mais estúpidas. Me contaram que máquinas de refrigerante matam mais do que ataques de tubarão. E só consigo pensar "PORRA, como alguém é morto por uma máquina de refrigerante?".

Eu ainda tenho minhas longas caminhadas tarde da noite, esperando algo acontecer, esperando qualquer sinal que me faça ter apreço por qualquer coisa. Quero chegar perto e implorar pela vida, perceber que na verdade ela é importante e que eu não estou tão indiferente quanto à tudo e quanto à todos. Mas nada acontece. Enquanto isso, alguém escorrega no banheiro e quebra o pescoço. Crianças se afogam em bacias, jovens da periferia são alvos de balas perdidas. E nenhum deles queria isso.

Esse é o preço de ser Intocável. Assistir isso tudo alheio ao mundo. 

Esse é o fardo que eu carrego todos os dias: ter uma casa e nunca se sentir em casa, estar vivo e nunca se sentir vivo, ter o que comer e nunca me sentir satisfeito, ter motivos pra chorar e nunca derramar uma lágrima, ter motivos para rir e nunca ficar feliz. Esperar uma tragédia e ela nunca chegar.

E ainda não entendo como alguém pode ser morto por uma máquina de refrigerante.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Contador de Histórias

Heródoto era desses velhos bem velhos, à moda antiga. Rabugento, porém muito polido com as palavras. Dono de um senso de humor invejável, um tipo de personalidade rara nos ásperos dias que vivíamos na primeira vez que o vi.

Na época, eu tinha Dezessete anos, ele já deveria ter seus Setenta e Cinco pelo menos. A livraria do Seu Heródoto era conhecida em toda cidade pois era uma das poucas na Cidade Baixa que ainda tinha livros da época do Arrebatamento, alguns até mais antigos, com o quadricentenário "1984", de George Orwell, autor sobre o qual conhecemos muito pouco, assim como todos os outros autores de antes da Guerra. Sem levar em conta aqueles que foram esquecidos pelo tempo, cujas obras foram destruídas e apagadas da história.

Mas o Sr. Orwell estava salvo na pequena cápsula do tempo de Heródoto, a livraria simples no subúrbio, imersa na cidade de lata, entre vielas escuras, ratos, cortiços, bares, mendigos, assassinos, viciados e operários. O simpático senhor dono da livraria que quase nunca escondia o sorriso amarelo me indicou o livro por ser, segundo ele, "um retrato perfeito da decadência da liberdade humana, quase como se Orwell tivesse viajado ao futuro e visto o nosso cotidiano. A versão de Tim Burton da Revolução Industrial."

Na época não entendi, afinal, até hoje não sei quem foi o tal do Tim Burton.

Por motivos óbvios, Heródoto não venderia o original. Esse ele mantinha trancada a sete chaves, dentro de um saquinho plástico num fundo falso da estante atrás do balcão. Ele me vendeu uma cópia porca, praticamente um amontoado de folhas amareladas amarradas a uma capa escura de couro onde lia-se em letras apagadas os números "1984".

Levei o livro para casa, escondido de todos. Até porquê, segundo o Seu Heródoto, eu poderia ser até mesmo preso por estar portando tal obra. O livro de Orwell estava entre os "Cânones Negros", uma lista de livros proibidos pelo Parlamento da Cidade Estado de Damasco, a nossa tão "querida" cidade de lata, a maior metrópole do mundo então, um gigantesco parque industrial que abrigava quase 12 milhões de pessoas com a peculiaridade de separar com um gigantesco muro o lado rico, conhecido como "Lótus", e o lado pobre, conhecido como "Subúrbio" ou "Cidade de Lata". 

Lótus era um gigantesco complexo comercial onde situavam-se o centro financeiro, as zonas nobres da cidade e o centro político de Damasco, o Palácio Real. Apesar do nome, não tínhamos um Rei. A cidade-estado era governada por 24 senadores e seus respectivos delegados. Lótus poderia ser vista a milhas e milhas de distância graças gigantesca cúpula que cobria a cidade. Formada por um membrana transparente de nano-robôs que filtravam a luz do sol e as chuvas. A cúpula também iluminava toda a cidade à noite quando acontecia algum evento importante.

Ao redor de toda a Lótus, havia o "Subúrbio" ou a "Cidade de Lata" como gostávamos de chamar, a porção que abrigava 80% de toda região urbana de Damasco. Um amontado de indústrias e prédios baixos, sem nenhum planejamento ou estrutura. Chamávamos de "Cidade de Lata" por causa dos telhados confeccionados em Zinco, Magnésio e Alumínio que protegiam as casas das constantes chuvas ácidas. No Subúrbio não haviam escolas nem hospitais. Quem podia, pagava por um professor ou médico. Que também não eram muito bons. Então, de maneira geral, todos os habitantes da Cidade de Lata eram muito ignorantes e pobres. Nasciam e viviam para trabalhar. Começavam muito cedo, aos dez, onze anos nas minas, nas manufaturas e nas siderúrgicas. A vida no Subúrbio não era fácil. Graças a pobreza e à falta de segurança, a cidade baixa era repleta de viciados e criminosos em suas estreitas vielas. E a Polícia, usualmente, era tão violenta quanto os criminosos, muitas vezes até mais.

Segundo Heródoto, o nome Damasco era uma homenagem à uma cidade antiga da Síria, mas não era a própria. Segundo ele, não estávamos no Oriente Médio, mas ninguém sabia. Depois do Arrebatamento, o mundo mudou bastante, a população mundial foi extremamente reduzida e os homens tornaram-se nômades por tanto tempo que nem sabíamos mais em que país estávamos. Heródoto dizia ter certeza de que Damasco ficava no Chifre da África. Mas também já ouvi dizer que estávamos no Centro Oeste da América do Norte. Essa é uma informação que talvez nem os mais poderosos tenham acesso já que a comunicação com outras cidades é limitada e, raramente, uma coopera com a outra na troca de informações.

O livro de Orwell foi apenas o primeiro que comprei do velho Heródoto, eu estava frequentemente em sua livraria comprando livros, debatendo e ouvindo as histórias do velho, que eram muitas. Nos dávamos bem pois ele era o único velho na cidade que tinha um acervo de livros do mundo antes do fim do mundo, e eu, o único garoto de todo setor sul que sabia ler. Os outros clientes da livraria eram todos mais velhos e ainda mais rabugentos que Seu Heródoto. Eu era o único com tempo, vontade e paciência de ouvir as histórias do velho.

Ele tinha também um livro enorme e muito velho que, segundo ele, era a história de sua família. Ele sempre me mostrava as fotos, cartas e textos do pré-Guerra que ele guardava com carinho. O livro era a única família que Heródoto tinha. O Velho vinha de longe, não sabe-se bem de onde. Instalou-se em Damasco há quarenta anos pelo menos e tornou-se um "garimpeiro de livros", um profissional em encontrar e vender livros esquecidos para museus, bibliotecas e galerias.

Alguns diziam que Heródoto chegou a morar na Lótus por alguns anos, mas depois que sua filha desapareceu, ele gastou todo o dinheiro que tinha tentando encontrá-la. Atravessou o Deserto tantas vezes que as pessoas não sabem nem contar. Quando finalmente desistiu, foi banido de Lótus e abriu sua modesta livraria com o que lhe restou no Subúrbio. E assim decidiu viver seus últimos dias, vendendo livros e ideias, contando histórias sobre um tempo onde todos os homens eram livres.

E deixou para mim, como maior herança, a sabedoria dos seus livros, as memórias de seu tempo e seu espírito sempre jovem.

sábado, 23 de novembro de 2013

Metade

Sabe o que eu queria só por hoje?

Não sentir mais essa raiva, não remoer mais essa mágoa. Mas parece que eu ainda insisto em viver no passado, em cerrar os punhos e encontrar motivos para atirar pedras. Sempre precisei de um alvo. Todo mundo precisa, todo mundo tem uma válvula de escape.

Eu só queria não sentir mais raiva. Nem pena, nem dor. Nem raiva, nem essa tristeza no alto da madrugada.

Isso não é tão recente, já deveria ter superado. Mas não é tão fácil é?

Sim, eu estou feliz, de certa forma. Mas nada disso me contenta. Nada disso me satisfaz. Quero saber como me livro desse ódio que está me consumindo dia após dia.

Devolva a minha vida. 

Tenho vivido ela parcialmente desde então. É como se metade do meu coração fosse dedicado a odiar, e a outra, a viver e sentir, mas sempre como se houvesse um filtro refinando qualquer sensação e qualquer sentimento.

Na metade que me sobrou, nada é intenso, tudo é indiferente. É o quase-medo. É o quase-tesão. É a quase-ansiedade.  Não estou mais dentro da minha própria vida, apenas uma metade de mim está lá.

Mas metade cheia de mágoa e angústia pulsa, é real, me empurra pra frente, me faz tentar ser ouvido. É o grito que ecoa na silenciosa noite escura, a força que me puxa para a superfície. É a maior motivação que eu tenho.

Quero lembrar de você apenas como se fosse um sonho, algo que não foi real. Talvez não tenha sido mesmo.

Não quero mais sentir raiva de você, mas é isso que faz eu me sentir vivo.

Deprimente não?

Hoje, já nem sei se você foi o meu pior sonho ou meu melhor pesadelo. Mas como o protagonista daquele filme, preferi acordar, viver uma vida real ao invés de voltar para o sonho. E em queda livre, percebi que a sensação de estar sonhando ainda não saiu de mim. Pois metade do meu coração ficou nesse sonho/pesadelo e se recusa a acordar. Ela passa a fita de novo e de novo e sempre se deprime no final, e sempre se tortura com o resultado e acumula mais e mais raiva.

Metade de mim sente raiva. A outra metade não sente nada.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O primeiro Natal do resto da sua vida

Clarice acordou do sono como quem acorda de um coma.

Talvez de 20 dias, talvez de 20 anos.

Acordou na manhã da véspera de Natal com o primeiro choque de realidade desde que tudo começou a desabar - não havia árvore, nem presentes, nem ceia, nada planejado. Sua mãe hipnotizada pela TV, ainda sob efeito de toda aquela merda que o psiquiatra a fez tomar. Ela parecia um zumbi, não estava mais lá. Ana Rita era uma mulher de Fibra, mas aquele Dezembro a fez desabar por dentro matando um terço de sua alma.

Seu pai fumando um cigarro atrás do outro na varanda, como há muito não fazia. Depois do derrame, Ricardo foi obrigado a parar de fumar. O Doutor foi preciso com as palavras: "coloque um cigarro na boca mais uma vez e eu venho assinar seu atestado de óbito".

Isso foi em Agosto de 2001.

 Em 24 de Dezembro de 2009, lá estava o senhor Ricardo Maldini gritando para o mundo que havia desistido, fumando o primeiro maço em oito anos, observando o vazio do quintal da varanda da sala como se os dois garotos jogassem bola no gramado, mas eles não estavam mais lá. E Ricardo morreria quatro anos depois após um Acidente Vascular Cerebral.

Então com 15 anos, era difícil carregar o fardo de toda a família nas costas. Foram-se quase duas semanas desde quando perdeu os dois irmãos, desde que sua mãe deprimiu-se e seu pai enlouqueceu. Os quartos de ambos vazios de seus corpos, lotados de seus pertences estocados como se fossem fazê-los voltar. Mas Clarice sabia que não voltariam. Um estava morto. O outro exilado.


A sustentação do céu de Clarice devastou suas terras como nunca antes. Mas foi um processo libertador: agora ela ao menos sentia o quanto seus problemas eram pequenos. E assumiu a responsabilidade de ser a mulher da casa mesmo que ainda fosse uma menina.

E foi assim que começou a história de Clarice, a garota que não tinha medo algum.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

"Você é daqui mesmo?"

Ouço essa pergunta quase que diariamente. Tanto pelo meu sotaque quanto por trabalhar numa empresa cuja sede fica em Criciúma.

Sou nascido aqui mesmo e nunca estive na serra catarinense, mas sempre respondo, com um sorriso desesperado no rosto:

"Eu sou de lugar nenhum. Sou de tudo quanto é canto."

Deve ser porque lugar nenhum me pertence. E eu, por minha vez, não pertenço a lugar algum.

sábado, 16 de novembro de 2013

O fim como ele será

Houve um tempo onde todas as pessoas perderam a voz.

Não a capacidade de falar, de produzir sons, vocábulos ou palavras. Todos perderam, naquele tempo, a capacidade de se expressar.

A falta de expressividade levou à sociedade um caos de comunicação sem precedentes. Todos tentavam, a todo o tempo, expressar a dor que sentiam, o afeto, o carinho, a felicidade, os seus sonhos e suas ambições. Mas algo sufocava a todos.

Então os seres humanos tornaram-se máquinas frias que resumiam-se ao seu dever de produzir. E dessa forma, o homem regrediu a um estado primitivo onde vivia apenas por viver. Acordava todos os dias apenas por existir. Trabalhava apenas para se manter. Sorria apenas para sentir. Sentir qualquer coisa que desse sentido a um mundo onde todos gritavam, mas ninguém ouvia.

E já não havia mais dança, já não havia mais sorrisos. Já não havia mais a dor da partida nem a redenção da chegada. Não havia mais amor, não havia mais ódio. Nada era apaixonante, apenas frio e mecânico.

Submerso nesse caos onde todos queriam ser ouvidos, mas ninguém queria ouvir, o gênero humano entrou em extinção, mas até hoje ainda não descobriu e vaga pelo planeta em busca de respostas sem perguntas.

E a humanidade tornou-se, assim, submissa à própria ambição.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

(Re)Capítulo

Eu li tudo de novo. Desde o começo.

Cada página disso aqui. Eu li tudo de novo.

Só pra ver o que mudou com a minha perspectiva. Só pra dialogar com meu eu do passado. Afinal, foi pra isso que eu criei isso tudo, pra interagir com o Pavani de Natais passados e ver o quanto eu cresci.

E cresci. E sei a resposta.

Uma cidade que não é minha, um nome que eu não conheço, o irmão que não está mais lá, o pai que nunca esteve, o amor platônico, o amor real, o ódio, a raiva, o sexo, o vício, a música, o som do silêncio, as noites acordado, os dias não vividos, o beijo na chuva, um rei sem coroa, o trono vazio, a melodia de uma máquina de escrever, o som do trovão, a vida em caixas, a apatia por aeroportos, o medo de voar, a vontade de fugir, a necessidade de voltar, o passado que não passa, o presente que não chega, o futuro que não existe. A rara beleza do discurso de quem nunca mais vai desistir.

Isso é tudo o que eu sou. Isso aqui é o que define cada pedaço da minha personalidade. No presente, sou a soma de tudo o que fui no passado, até mesmo dos pedaços que caíram no caminho.

A vida começa e acaba a todo instante.

Todo mundo muda. Mudamos o tempo todo, mas não mudamos nunca. A vida é isso, um discurso incongruente onde duas afirmações opostas são igualmente verdadeiras.

Preciso morrer pra nascer de novo. E lá vamos nós, mais uma vez.

Ainda tenho muitas histórias pra contar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Beholder

Playing notes making quotes to be noted
Maybe someone someday will notice
I'm not dead yet i'm just buried underneath the toughest skin

And the echo it echoes inside me
And it's the only way i can hear it
And it's so deep. As i shiver. And tell me: do you still believe?

As you pass me as i lose the compass
All my clocks overdue i'm in the past
We are not alone. So just move along. And forget the fucked things we've done

I'm waiting awake at the road
Where the devil came to buy my soul
And if this won't work. You know you've been told. The worst hell is where i came from.

From the endless landscapes to the higher peaks
I'll haunt myself forever. The Ghost who i should be
The sparks that light the way. The sound that brings you home.
The rock that stands the waves. The place where i behold
That peace so long gone

Hear
me
As
I
beg you
please
Just
Leave
me
While
You can
This
dist-
ance
makes
it safe
I
Swear
ano-
-ther
day
we'll
meet
again

(when we are both cats)

sábado, 2 de novembro de 2013

04h47

Tudo o que eu queria ter já não existe mais. Eu cansei de esperar, agora já não tem mais volta.

Se a gente vive pra sentir então eu já morri. Se não há mais tempo a perder eu juro que não sei porque ainda estou aqui. Escrevendo sem saber pra quem. Escrevendo sem saber porque.

Ser é sentir. E eu já não sinto mais nada. Então me diz quem eu sou. Aproveita e me mostra o que restou. No fim da festa a gente vê as verdadeiras faces.

Traz de volta minha bebida, traz de volta meu cigarro. Tenho certeza que essa vida vale bem menos que um trago.

Assim eu finjo que vou vivendo. Só te peço que finja que acredita.

E assim a gente vai fingindo, acreditando que isso não muda nada.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Hyde: além do monstro

Mais uma vez, ele conseguiu.

Hyde tem a necessidade de partir corações o tempo todo. Proporcionar aos outros o sentimento de desilusão, desamparo, decepção e dor é a única forma que conhece para ser compreendido. Talvez se sentindo como ele, as pessoas possam entender o que se passa em sua mente nebulosa.

Ele conhece o amargo como ninguém, mais do que isso: Hyde tem uma idolatria obsessiva pela dor. É o que faz ele sentir-se vivo. Enquanto Jekyll dorme, Hyde sai para compartilhar dessa dor com qualquer um que cruze seu caminho nesse ciclo vicioso de causar e sentir dor.

No fundo, o Monstro sabe que está sozinho e, embora todos conheçam seus meios e fins, no fundo ele espera ansiosamente pelo dia em que o Médico vai acordar para que não precise ser mais esse monstro.

E teme, de maneira desesperada, que esse dia nunca chegue.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

This house is not a home

Safe on every structure of another phrase when you promissed the promisses we know we couldn't break.
And i remember the empty streets on the dead of the night and the goodnight kiss on our way home when the stars were aligned.

And let it rain on me to wash away my sins
Just take me out of here i just want to disappear
it's so unclear

On the end of the street there is a house i once lived in.
It's walls were painted of memories of my last year.

A better version of me was there back then
besides the best form of you and i
remember how we're perfectly fitted
into our near perfect life

But now that house is dark and empty
and it's dirty and cold and closed
And stop spiting all you bullshit
we know how the story unfolds
It doesn't matter what you say
i know we can't bring it back
Nothing can make me feel like then
Nothing will make me be like that
and i will hate you for closing it
You knew it was also my home
So now i'm stuck here in between
the lines and unable to move along
Fuck this empty house and don't you
Dare to say we could start again
You should know a house is not a home
If you won't be there until the end.

There's a universe on every "if" i've ever thought

So i face the sun expecting nothing more than a hot day can offer
And i'm all alone wondering if the past days could change to bring a new tomorrow

It would have been beautiful - but you'll never know and you'll never learn.
It could have been so clear - to breathe again; a new atmosphere
But the future in the past sentence is time where i don't exist.

So i burn my tongue while eating in a hurry on this hard day
I've seen your face so many times the memory holds onto a picture frame

There is a world out there and it's calling me
But i'm stuck like it all moves way faster than me
And all the reasons that i plant to justify why i don't move along
are just a part of the theory where our hearts are overdue
And the compasses won't match even if we start from scratch
Cuz' we've been tired
we all have been so bored
Two years can change everything we are

sábado, 26 de outubro de 2013

1191

E no ano novo, andei até o fim da rua só pra vê-la mais uma vez. Já imaginava, já era claro: seria a última.

Aquela casa enorme, linda. E vazia. Não só de moradores ou de mobília, mas de toda aquela energia que fluía de dentro pra fora. Livre de qualquer história que estivesse presa dentro daquelas paredes. E não tinha mais aquele cheiro característico que tinha nossa casa.

Era tua casa. Escura e vazia.

E eu me enchi de raiva, quis apedrejar as janelas, quis incendiar a sala, quis derrubar a fundação. Porque eu queria que tudo o que eu vivi lá pudesse voltar. Eu só queria de volta aquilo que eu fui. E todos aqueles momentos que me fizeram ser. Mas nada vai voltar, mesmo que devolvam a mobília, os moradores, o cheiro e a rotina, nada daquilo vai voltar. Não dá mais pra ser como era antes. Não iria conseguir mais ser aquele cara.

Essa casa não é mais minha, esse já não é mais eu.

Eu segui em frente, mas ninguém disse que seria bom.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Redenção

Escrever sem um cigarro é impossível.

A cada trago, queima-se a vida e surge a inspiração.
Esquece de tua sina e lembra da vocação.
Resgata a tua lembrança com o cheiro do alcatrão.
O prazo do suicídio é o mesmo da redenção.

Não é a fumaça que eu exalo, mas o que sobrou de bom em mim. Pra mim, ficou só o esqueleto, o rascunho, o esboço daquilo que era pra ser.

O futuro do pretérito só existe na ficção. Mas lá é onde mora a tal da Redenção.

domingo, 20 de outubro de 2013

Explicando

Eu sei que meu valor é nulo a partir do momento que voce descreve o que sente por outro alguém usando exatamente as mesmas palavras que usava para se referir a mim.

A descartabilidade vai além do pessoal. Tornou-se necessária no momento em que vivemos.

Na geração do "ninguém é de ninguém", tudo mundo se perde sem o Dono. Isso é porque insistimos que alguém tem que guiar nossa coleira.

As relações tornam-se vazias, utilitaristas, interesseiras, descartáveis. As pessoas se tornam números, uma lista de nomes e endereços, mais uma história pra contar.

Cada um é só mais um. Uma figurinha no álbum ou um passageiro que gira a roleta.

E tem gente que ainda me pergunta porque não consigo e não quero mais me relacionar com alguém.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sete

Dezessete de Outubro. O Sétimo círculo, o dia em que tudo começou a desabar.

O dia pra reviver tudo aquilo de novo. Lembrar como se fosse um filme de infinitos frames se repetindo na minha cabeça que só torna mais difícil acreditar que você não está mais aqui.

Então eu desisto, deixo estar, tento tirar o foco, deixar tudo turvo com vício após vício para que não consiga mais enxergar. Esse passado já não é mais meu.

Ainda sinto a sua falta. Sempre vou sentir.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Seis

Dezesseis de Outubro.

A véspera é sempre o pior.

A ansiedade, a angústia, a vontade de voltar pro único dia no qual eu poderia mudar tudo.

Não mudei, meu orgulho não deixou. O que eu posso fazer?

Me acordem sexta feira, por favor. Não quero ter que viver o amanhã.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Cinco


Quinze de Outubro.

Quando ele sai de cena, ela entra. É sempre assim.

O ódio e a tristeza dialogam dentro de mim o tempo todo. De tempos em tempos, um dá a vez para que o outro fale. Ás vezes eles cantam em uníssino. Ás vezes, harmonizam.

Me perco.

Me encontro na rua querendo um cigarro. De punhos cerrados. Não posso machucar quem eu quero, só resta punir a mim mesmo. Só um trago, não vai fazer mal.

Hoje não. Vou guardar meu ódio só pra você.

Me lembrei do que me disseram num sussurro (ou num grito, qual a diferença?):"Você não pode sentir raiva pra sempre."

Quatro


Quatorze de Outubro.

Sonhei que te contava tudo aquilo que aconteceu nesses últimos anos. Minha cara de moleque entusiasmado e a sua com aquele sorriso sereno de quem tá achando o máximo, mas sem nenhuma empolgação.

Queria poder te contar.

Quarto Dia, quanto mais perto do sétimo círculo, mais frio e escuro o lugar vai se tornando.

Não dá mais pra voltar. O jeito é prender a respiração pelos próximos três antes de lembrar de tudo aquilo que eu quero esquecer.

Cansado de sentir a sua falta.

"You will always be remembered
You will be celebrated.
You will never be forgotten
These tears still haven't faded."


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Três

Noite. Treze de Outubro.

Respire.

Sinte-se vivo como nunca antes né? Por um momento, até esqueceu aquelas coisas todas.

E já cansei de falar das linhas amarelas e da minha fixação por números.

Soltei o leme, deixei o mar me levar.

E agora? Sinceramente, não me importa mais.

Ela já nem passa mais pela minha cabeça, mas nessa época, ele não sai dela.


Dois


Dia 12 de Outubro, o final de semana começa e você se pergunta porque insiste nos velhos erros.

A inspiração some. Não sabe mais o que escrever, não sabe mais sobre o que falar. Será que tua vida se tornou tão vazia assim?

"In Vino Veritas"

Pelo menos, é o que diziam os romanos. É verdade que o álcool me faz mostrar o que eu tenho medo de ser enquanto sóbrio, mas atitudes e palavras de quem está ébrio nem sempre são verdadeiras.

Me desconheci. Ou redescobri, não sei.

Também não sei se gostei ou não, mas a impressão é que quanto mais cheia, mais vazia minha vida tem se tornado.


Então prefiro ouvir essa música que marcou meu ano, marcou minha vida, marcou toda essa existência. Mudar é sempre preciso, mas nem sempre positivo.