segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ego Invisível


No momento do salto, eu flutuo. O chão parece distante e os pés não conseguem alcançá-lo. O suor gelado, o coração acelerado, o corpo suplicando pelo fim de toda dor.

Me sinto carregado por um milhão de luzes e sufoco querendo ficar.
Eu imploro que me deixem, eu suplico que me perdoem. Rezo aos céus que me ajudem.

Ninguém responde.
Deus desapareceu no rodapé dos quadrinhos. Talvez naquela página que pulei. Talvez na biblioteca da escola. Talvez nos comerciais da TV.

Já nem lembro o rosto dos amigos. Daqueles que diziam ser pra sempre, mas acabaram entrando em outra. Um que arranjou uma namorada, outro que mudou de cidade. Outro que enfia o nariz carreira após carreira, sem rumo e incontrolável. Talvez eu nem esteja tão mal não é?

Meu humor segue tornando a minha vida menos dolorosa há duas décadas e meia.

Agora me arrependo. Não tive baile de formatura, não tive uma namorada líder de torcida como nos filmes dos adolescentes americanos com nerds com óculos fundo de garrafa colados com fita e jogadores de futebol com jaquetas legais.

A escola foi difícil pra alguns. Ser gordo ou sardento pode fazer da sua vida um inferno hoje em dia. Mas não aconteceu comigo. Eu não. Eu passei imperceptível. Não estive em nenhum Workshop, em nenhuma festa, em nenhum trote, em nenhuma foto de turma. Totalmente invisível. Talvez seja melhor assim, não sentirão minha falta.

Hoje sinto pena dos meus professores. Daqueles que diziam que eu tinha um futuro brilhante. Ah se me vissem aqui. Perdido e pairando sobre o chão de linóleo.
Que decepção!

Não posso falar mais, meu tempo está acabando. Minha capacidade cognitiva se vai com a redução do oxigênio no cérebro. Nesse momento eu me lembro de um Parque de Diversões da minha cidade onde uma vez eu me perdi. Acredito que nunca mais me encontraram. Até agora.

Saibam que fiz o meu melhor, me perdoem pelos meus erros, mas reconheçam meus acertos. Viver anônimo e morrer anônimo. Não acredito que seja o plano de ninguém, mas é o que há para hoje.

Espero que tenha errado o nó da forca.



"A sabedoria ilumina meu caminho na escuridão
suas palavras; a melodia que me leva
Nós não podemos fazer a mudança
até sabermos quem nós somos"

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Efermo.

Nas noites de insônia, inquieto e inseguro. Na cama, soterrado debaixo das cobertas, a cabeça enterrada no travesseiro, porém muito distante de onde os olhos podiam alcançar. Olhos que viam somente o que permitia a escuridão, interrompida somente pelo feixe de luz que entrava pela fresta da porta. Mas viam o bastante para enxergá-los.

Malditos inquilinos da noite, no pé da cama, dentro do guarda-roupa, e na janela. Com suas mãos gélidas e ásperas, asquerosos e renegados pensamentos deixados para trás na putrefação. Mortos. Pelo menos era o que pensava. Por mais que se esforce para que não te sigam até sua casa, eles acham o caminho, eles sempre voltam para te atormentar nas noites frias.

Já próximos de mim, podia observar as órbitas vazias de seus olhos que nada mostram, nada escondem, mas hipnotizam de maneira surreal a ponto de me deixar paralisado. O que eu vejo é real? Eu duvido: a barreira entre a loucura e a sanidade foi quebrada há muitos anos debaixo da chuva.

Com a voracidade de sempre, eles invadem meus sonhos e se tornam donos daquilo que um dia foi meu. Já não respondo mais por mim - deveria em algum momento?

Eles voltaram.
Até quando eu não sei.

Sei que em algum momento irão embora. Mas eles sempre deixam lembranças da visita.