sábado, 23 de novembro de 2013

Metade

Sabe o que eu queria só por hoje?

Não sentir mais essa raiva, não remoer mais essa mágoa. Mas parece que eu ainda insisto em viver no passado, em cerrar os punhos e encontrar motivos para atirar pedras. Sempre precisei de um alvo. Todo mundo precisa, todo mundo tem uma válvula de escape.

Eu só queria não sentir mais raiva. Nem pena, nem dor. Nem raiva, nem essa tristeza no alto da madrugada.

Isso não é tão recente, já deveria ter superado. Mas não é tão fácil é?

Sim, eu estou feliz, de certa forma. Mas nada disso me contenta. Nada disso me satisfaz. Quero saber como me livro desse ódio que está me consumindo dia após dia.

Devolva a minha vida. 

Tenho vivido ela parcialmente desde então. É como se metade do meu coração fosse dedicado a odiar, e a outra, a viver e sentir, mas sempre como se houvesse um filtro refinando qualquer sensação e qualquer sentimento.

Na metade que me sobrou, nada é intenso, tudo é indiferente. É o quase-medo. É o quase-tesão. É a quase-ansiedade.  Não estou mais dentro da minha própria vida, apenas uma metade de mim está lá.

Mas metade cheia de mágoa e angústia pulsa, é real, me empurra pra frente, me faz tentar ser ouvido. É o grito que ecoa na silenciosa noite escura, a força que me puxa para a superfície. É a maior motivação que eu tenho.

Quero lembrar de você apenas como se fosse um sonho, algo que não foi real. Talvez não tenha sido mesmo.

Não quero mais sentir raiva de você, mas é isso que faz eu me sentir vivo.

Deprimente não?

Hoje, já nem sei se você foi o meu pior sonho ou meu melhor pesadelo. Mas como o protagonista daquele filme, preferi acordar, viver uma vida real ao invés de voltar para o sonho. E em queda livre, percebi que a sensação de estar sonhando ainda não saiu de mim. Pois metade do meu coração ficou nesse sonho/pesadelo e se recusa a acordar. Ela passa a fita de novo e de novo e sempre se deprime no final, e sempre se tortura com o resultado e acumula mais e mais raiva.

Metade de mim sente raiva. A outra metade não sente nada.

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