segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Por um segundo

E levantou, cheio de confiança. Esqueceu do seu jeito introspectivo, da suas vestes relaxadas, da forma como parecia que iria tropeçar ao andar, da forma física nada exemplar, na aparência nada sedutora. Nada disso importou. Atravessou o salão e tirou ela pra dançar.

E ela aceitou.

E noite adentro dançaram como se não houvesse amanhã e ele guardou pra si aquele momento mágico. Aquele momento onde a ficção parece ser real, onde o idealismo vale a pena, onde as aparências não valem tanto. Por um segundo ele sentiu que o amor poderia existir de verdade como nos filmes e nos livros. Um pequeno momento entre segurar a mão dela e tirá-la para dançar até o fim do baile.

O mundo se coloriu uma vez, só uma vez. E ele pode se iludir pensando que tudo teria um final feliz.
Então chegou a manhã de Domingo e ele voltou pro mundo real.

E só.

Uma lista arruinada

Não há momento mais triste (e também mais belo) do que aquele em que as cores das paredes de seu sonho começam a desbotar. Tua casa desaba e toda a cera derrete, tudo que reluz torna-se opaco. As máscaras caem, os rostos deformados surgem no lugar dos vastos sorrisos de mentira. E o tempo fecha, as nuvens escurecem e sangram a chuva negra que inunda as ruas e casas.

Aquela sua lista de metas, planos e sonhos está arruinada. Você entra no seu carro e parte sem destino na madrugada ouvindo qualquer música. Não sabe bem para onde está indo, não sabe o que pensar. Preso, mais uma vez, no paradoxo de se mover sem sair do lugar.
E nem sequer houve tempo para um beijo de despedida, um abraço. Talvez um "até mais", um "até logo". Ou simplesmente um mais sincero "adeus".

A noite te engole enquanto dirige pela cidade deserta de madrugada quando todos já foram dormir, mas tua alma acende e acorda como nunca antes. Você acelera o carro, eu, a caneta. Atropelo as vírgulas para descrever como você simplesmente segue sem tirar o pé do acelerador.

E eu sei que você sabe que as maiores escapadas surgem nos lugares mais inusitados. No banheiro sujo de um bar qualquer, na beira de uma estrada de madrugada, na fila do banco pagando a conta de luz, na cama de um quarto de hotel barato. Ou ainda preso nas ferragens do seu carro no fundo de um rio.

Não importa. O que importa é que a catarse sempre vem logo depois do fundo do poço, logo antes da redenção. Pelo menos é o que dizem. O fundo do poço conheci bem, a catarse está aí, mas a redenção...
Essa ainda não passou por aqui.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pra se sentir melhor

Isso não é uma indireta. Qualquer um que nos conhece vai saber pra quem é esse texto.

Talvez seu maior mecanismo de defesa, desde então, tem sido mentir pra si dizendo que "foi melhor assim." Ou então que "não era pra ser".

O caralho que não era.

Todo mundo sabe os "quem", "comos" e "porques". E todos sabem que as coisas poderiam ser como eram até hoje se não fosse por você jogando o seu saco de merda no ventilador. E até hoje não entendo se foi você que mudou ou só a máscara que caiu. Nunca vou saber.

E não, eu não estou melhor. Não sou mais o mesmo desde então. Vivo uma dicotomia pessoal há quase um ano, sei quem sou, mas não me agrada nem um pouco. Hoje, tem muito mais de monstro do que de médico aqui dentro. Você não sabe como é acordar sentindo que o melhor de você não existe mais. Não sabe como é gostar e se apegar a novas ideias, novos rostos, novos nomes, mas no fundo não estar nem aí se eles vão estar vivos amanhã.

Eu não amo mais ninguém. Nem família, nem amigos, nem eu mesmo. Não ao ponto de me importar de verdade. Não ao ponto de me doar. Não ao ponto de me machucar pra evitar que outra pessoa se machuque.

A mão de quem muito trabalha fica calejada. Não se machuca mais, porém também perde a sensibilidade. E isso acontece com o coração de todo mundo que passa pelo que eu tenho passado, e não falo só de você, tem mil coisas acontecendo a todo momento: dinheiro, família, amigos. Tudo desabou de uma vez só. Poucos foram os que ficaram pra me ajudar. No final, apesar de eternamente grato a esses poucos, reconheço que nenhum deles conseguiu me ajudar de verdade.

Coisas boas aconteceram também, é verdade. Sou grato por elas. Mas pontos não consertam qualquer ferida. E mesmo a melhor das suturas sempre deixa uma cicatriz que você não esquece.

Aquela velha raiva que eu sentia de tudo voltou. Nunca me senti tão sozinho mesmo rodeado por dezenas de novas pessoas. Tento manter minha mente e meu corpo ocupados, há muito tempo abandonei o ócio, até mesmo nos momentos de descanso, sempre estou fazendo alguma coisa. Não adianta.

Eu voltei. O eu de verdade, aquele lá que você conheceu. No final, o monstro vence, o médico sai derrotado e o único jeito de acabar a história é matando os dois.

Não sinto sua falta. Sinto falta de quem eu era com você. Não consigo mais ser daquele jeito. Você levou embora a melhor parte de mim e, sinceramente, não sei o que mudou pra você e nem faço questão de saber, pra mim tanto faz.

Hoje tenho quase tudo que eu queria naquela época: alguns bons amigos pra compartilhar os momentos, um projeto onde faço o que gosto e um trabalho meia boca pra sustentar meus vícios. Hoje tenho mais inspiração do que nunca. Hoje sou mais inteligente e mais crítico do que jamais fui.

Mas já não é mais o bastante. No final, o prazer que isso me proporciona é muito pequeno em relação ao que sinto todas as noites antes de dormir. Hoje vejo maldade em todo lugar, hoje penso duas vezes antes de acreditar em qualquer um. Hoje não boto a mão no fogo por ninguém.

Meu ponto aqui não é te culpar, te julgar ou te atacar, mas somente alertar: você é responsável por aqueles que cativa. E acredite, preferia muito mais estar esfregando minha felicidade na sua cara, mesmo que fosse de mentira. Mas não é assim que as coisas são.

O vilão não é o cão que morde, mas aquele que conscientemente solta-o da coleira.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Desafinado

Meio tom separa o alegre e o triste, o lógico e o incongruente, o crente e o ímpio, o certo e o errado.

Alguma vez já sentiu que as notas da sua vida nunca se encaixam? Não importa a melodia, o andamento, o tom ou a técnica, tudo soa totalmente desafinado.

E você busca, o tempo todo, com seus acordes de relações, seus contrapontos emocionais, as harmonias mais belas da sua história. Nada se encaixa.

E você recapitula, ouve os velhos discos, lembra os velhos tempos, resgata as memórias de outra época que parecia ressoar de maneira mais harmoniosa. Percebe que, na verdade, os seus ouvidos é que eram ruins. E você já não consegue mais explicar essa raiva.

Todos tentam, ninguém entende.
Todos ouvem, ninguém escuta.

Pois somos poucos os capazes de ouvir os quadros e ver a música.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Asfalto

Depois de todo esse tempo acho que me acostumei.

Sei lá, a mente se cansa enquanto o corpo descansa. Ninguém sabe explicar o que acontece entre um dia e outro. Mesmo depois de seis meses ou mais, com as vidas correndo em direções totalmente diferentes e um turbilhão de coisas acontecendo e passando pela minha cabeça a todo momento ainda sinto alguma coisa.

Aquela raiva de sempre.

Velha amiga, desde sempre aqui comigo. Não sei se sou eu que uso dela ou se é ela que me consome. Mas me faz bem de certa forma. Faz eu me sentir vivo. E ao mesmo tempo, me destrói, me desconstrói. E eu corro para os cantos mais escuros da mente, fujo pro mundo que eu criei. Me tranquei a sete chaves dentro do porão pra nunca mais sair. Troquei as fechaduras pra nunca mais entrar.

Eu não me esqueci, não sou ingrato, não sou egoísta assim. Mas sinto que nada disso foi necessário. Uma vez ouvi dizer que só quem conhece o amargo sabe apreciar o doce. Mas hoje eu não sinto mais o doce nem que me enfiem uma colher de açúcar debaixo da língua. Só sinto o cheiro do asfalto molhado. E acho que isso é algo que ninguém nunca vai entender.

Eu não quero voltar, mas não quero esquecer.
Eu não quero pensar, mas eu quero entender.
Eu não quero sentir, mas eu quero fazer.
Eu não quero outro alguém, mas não quero você.

E no final, acho que não da pra sentir raiva pra sempre.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Objetos na Via

Uma vez me perguntaram porque escrevo tanto sobre coisas negativas, violentas, depressivas.

Entenda, não é por gosto. É só uma tentativa de captar o ser humano em sua essência mais bruta e naturalista possível. E toda essa inspiração vem de experiências próprias.

E lembro-me desse incidente na Linha Vermelha. Lembro do vagão lotado e do meu malabarismo com as malas. Pra quem não sabe, a Linha Vermelha (Linha 3) do Metrô paulistano é que a que faz a rota Leste (Corinthians-Itaquera) e Oeste (Palmeiras-Barra Funda).

Foi, se bem me lembro, em algum trecho entre as Estações Pedro II e Brás.

O trem parou na via. Todos sem olharam como sem entender porque. Estava nublado, mas não chovia. Deviam ser 17h30 se eu não me engano.

Momentos depois a voz fúnebre no sistema de som do metrô deu a notícia:

- Senhores passageiros, a viagem teve de ser interrompida para retirada de "objetos" da linha. Agradecemos a compreensão e em poucos momentos daremos continuidade à viagem.

E já perceberam como todo operador do Metrô de São Paulo tem uma voz de coveiro de filme de terror?

Alguns momentos se passaram, talvez uns dez ou quinze minutos e eu suando feito um porco, cansado, louco para chegar em casa. Imaginava que caralhos ele queria dizer com "objetos" na linha do trem.

Finalmente o trem se moveu - ainda em velocidade reduzida - e se seguiu seu caminho. E alguns ainda reclamavam quando passamos pelos "objetos" retirados da linha.

Uma perna. Na verdade, o que sobrou dela.

Alguém havia se atirado na frente do trem anterior. O cara virou uma mancha, não sobra muito de você quando se entra na frente de um trem.

O nível de comoção das passageiros do metrô foi zero. Os funcionários do Metrô e da Perícia que recolhiam os "objetos" também não pareciam nem um pouco incomodados com a situação. Cada um seguiu sua vida e pronto, foda-se o cara que virou recheio de cascalho.

Agora você entende o que eu penso ao escrever.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Samba de Uma Nota Só.

Foi no carnaval de 83.

A Rosas de Ouro cantava a nostalgia paulistana debaixo de chuva enquanto eu o seguia pela Avenida Santo Amaro num carro que não era meu. Eu tremia, fumava um cigarro atrás do outro e imaginava se teria a coragem (ou covardia) necessária.

Eu não sei bem onde ele estava indo e acredito que nunca saberei. Mas sabia que era ele, TINHA que ser. E sendo, eu deveria estar preparado. O carro dele adentrou em algum bairro, não sei onde direito, chovia bastante e estava muito escuro. Nessa época, a periferia de São Paulo era mais escura do que é hoje.

Ele parou em frente uma casa, desceu com o casaco sobre a cabeça para se proteger da chuva. Foi naquele momento que eu vi o brilho da calibre 45 no coldre e hesitei pela primeira vez abaixei a cabeça e rezei aos céus para que tudo desse certo enquanto ele chamava alguém no portão.

Quando dei por mim, ele já estava dentro do carro de novo e já partia ao fim da rua. E eu continuei seguindo e até hoje não entendo como ele não percebeu. Acho que a chuva me ajudou.

Há cerca de quinze quadras da casa onde havia parado, ele entrou num posto de gasolina. Enquanto o frentista abastecia o seu carro, o militar saiu, perguntou alguma coisa e dirigiu-se, a pé, pro lado de trás do posto. Era a minha chance. Tirei o velho revólver do porta luvas, coloquei na cintura e fui atrás.

Ele tinha ido ao banheiro, quando entrei, ele mijava no mictório. Eu jamais teria outra chance como aquela, estava muito fácil: um tiro na nuca, pintar os azulejos encardidos com o sangue e os miolos do filho da puta. Ele morreria ali, indefeso, sem chance de reação num banheiro imundo de posto na Zona Sul. Mas eu não queria que fosse assim. Eu queria olhar nos olhos do cara, queria ver o medo que eu tive refletido no semblante do interrogador que há uma década matara quase todos os meus amigos.

Me juntei a ele no mictório, até cheguei a cumprimentá-lo.

- Boa noite - eu disse meio sem saber o que estava fazendo.

- Boa noite - respondeu áspero, sem ao menos olhar na minha cara. Paulistano típico. Menos mal, temi que ele me reconhecesse.

Depois que ele terminou, saiu sem lavar as mãos. Eu ainda esperei um pouco, pensei em desistir. Mas não poderia, não era uma opção. Eu tinha que me decidir. E não há melhor lugar que um banheiro sujo numa noite chuvosa para decidir fazer qualquer merda. O banheiro é sempre o santuário mais sagrado dos desesperados.

Me decidi. Mataria ele naquela noite.

E assim fui, atrás daquele homem cujo nome eu nunca soube. Saí do banheiro bem a tempo de ver o carro dele deixando o posto. Corri até o meu próprio carro e continuei a mórbida perseguição.

Num momento, numa larga e deserta avenida na Zona Sul, não sei exatamente onde, pisei fundo, acelerei o carro e toquei com o para-choque a traseira do Corcel do militar. O carro dele rodou e capotou duas ou três vezes, parou só na calçada. No espetacular vôo do automóvel, vi algo ser ejetado, alguma coisa... alguém.

Desci do carro com o revólver em punho pronto pra ir de jornalista e idealista a homicida sanguinário.

Corri até o carro do militar, poderia ouvir ele gritar de desespero. Era o desespero que eu queria. Me aproximei, dei a ele a mão direita para ajudá-lo a sair do carro tombado.

- Me ajuda pelo amor de Deus! Meu filho! Cadê meu filho? - Presumi que ele estivesse em estado de choque, alucinado ou será que...

- Foi a mesma coisa que eu te perguntei. Lembra de mim? - Ele olhou no meu rosto, mas pareceu não se lembrar.

- Passei dois dias num porão vendo essa sua cara de bosta enquanto dois burucutus quebravam meus dedos me davam choques. Você não lembra de mim, mas eu me lembro de você seu filho da puta do caralho.

Ele resmungou alguma coisa, não pude entender. Esboçou uma reação, queria puxar a pistola do coldre, mas parecia não ter forças. Seu braço estava evidentemente quebrado.

Ainda segurando a mão dele, puxei da cintura o oitão com a mão canhota e acertei dois tiros no rosto do militar. O sangue respingou nas minhas roupas, o primeiro acertou logo acima da boca, afundou o palato e deixou o nariz dele "pendurado". O segundo atingiu o olho e foi o que provavelmente o matou. Ali estavam vingados todos os meus amigos da redação que ele me fez entregar e matou friamente.

Roubei a pistola, a bela calibre quarenta e cinco. Junto com ela, um maço de cigarros dele. Acendi um, mesmo debaixo de chuva e voltei pro carro e vi uma das piores cenas da minha vida.

Alguém caído no meio da avenida. Alguém pequeno demais. Eu estava com tanta raiva quando fui até o Corcel tombado que não percebi aquela pessoa.

Tinha mais alguém no carro? Ele parou em frente ao portão e chamou alguém, eu me lembro. Eu estava de cabeça baixa, ele com o casaco sobre a cabeça se protegendo da chuva. Alguém saiu da casa e entrou no carro e eu não vi. Alguém pequeno demais que passou pela calçada e cuja cabeça eu não poderia ver do outro lado da rua. Alguém baixo demais. Ou uma criança.

Um garoto. Apenas 7 ou 8 anos. Caído, na avenida, ensanguentado. Morto debaixo da garoa paulistana.
Lembro dos primeiros gritos dele preso no carro capotado: "Meu filho! Meu Filho!"

Eu estava em estado de choque, não soube como reagir. Vomitei no meio fio e sentei de no meu carro, fui embora rumo à Santa Fé.

No rádio do carro, transmitiam o desfile das escolas de samba e nunca me esqueço de um trecho do Samba Enredo campeão daquele carnaval:

"A cortina vai se abrindo lentamente
Eis o palco de luzes faiscantes
O show é maravilhoso
Tem plumas paetês e vedetes fascinantes"

domingo, 15 de setembro de 2013

Irrelevante.

Não importa se hoje foi um dia bom.
Não importa se eu já esqueci ou se ainda lembro.
Não importa se minha vida está de um jeito ou de outro.

Nada disso importa pra ninguém.

Não há nenhum sentido em dizer ou escrever qualquer coisa. É irrelevante como quase todas as outras coisas.

Por isso, estou desistindo disso. Chega de exteriorizar tudo, chega de sobrecarregar as pessoas com meus problemas, chega de viver esperando aprovação.

Nada disso vai fazer diferença pra voces. Nem pra mim.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Devoção

Aceno pro Garçom e peço a conta imaginando como as pessoas me enxergam tomando um chopp sozinho na mesa do canto. Ali, alheio à mistura da música ambiente e as conversas em outras mesas. Meu santuário, minha prece. O caminho de volta pra casa - como sempre, a pé - é aquele mesmo de sempre com as mãos no bolso da blusa, os olhos fitando o pavimento da calçada, som dos meus passos na rua deserta em fim de noite. Esse é o meu calvário.

Alguns passam, alguns olham, mas ninguém nota.

Chego em casa e nenhuma história pra contar. Sento no sofá, ligo a televisão e espero ela me sintonizar. Ninguém vai entender nada disso. Não fico na frente dela nem por dez minutos, recorro à janela da sala. Acender um cigarro e observar a vizinhança durante a madrugada. É o mesmo ritual de sempre.

Trago a trago, a noite acaba. É só isso mesmo e mais nada. Olho pra baixo e lamento o fato de morar no quarto andar. Se fosse o oitavo ou o décimo, quem sabe, a janela tornar-se-ia uma saída de emergência pro pátio central. E o que sobrasse de mim traumatizaria as crianças saindo de manhã para ir pra escola. Assim me tornaria mais um mártir.

Quem sabe um dia, hoje não. Hoje me contento com o que estiver passando na televisão. Pelo menos enquanto não encontro outro santo pra mostrar minha devoção.

É dez de Setembro, lembro que o inverno não acabou.

domingo, 8 de setembro de 2013

Só mais uma tarde de Domingo.

Ele acordou em outra manhã. Abriu os olhos, mas custou a ter coragem. E a gente espera o amanhã e ninguém disse que vamos ter alguma vantagem.

Mais um dia, novos versos, a retórica é velha, as notícias são as mesmas. Mais uma madrugada e deixaram as luzes acesas.

De repente assim a gente vê que a vida é mais que isso. Um dia entenderão que é isso que faz eu me sentir vivo.

Mas ninguém vai dizer. Ninguém vai escutar.

E ele acordou no meio da tarde. De ressaca e a vida em trapos. Levatou-se sem alarde, passou a vida recolhendo os cacos.

Mais um tempo pra pensar. Procrastinando e adiando decisões. Outro item pra riscar. O resto das nossas invenções.

E lá do alto  o mundo parecia tão menor, mas aqui embaixo a gente aprende o valor desse suor.

Um dia a gente entende que a vida é mais que isso. O nosso sangue vale mais do que uma tarde de Domingo.

Pra descansar

Sem Controle

Só agora entendi.

Desde o princípio, meu maior erro foi tentar controlar tudo o tempo todo. Embora a intenção seja válida, nunca temos controle sobre a própria vida. Nem mesmo sobre a própria vontade.

E quase tudo de melhor que eu tive aconteceu por si só, fora de qualquer plano. Assim como quase tudo em que fracassei deu errado por causa da minha necessidade de ter tudo sob controle.

Solta o leme. Ele é só uma ilusão do controle. Quem decide pra onde você vai são as ondas do mar e a força do vento.

Esqueça. Apenas aproveite a viagem. Enquanto isso, aproveita e me mostra algo que eu não sei.

Pois eu tenho gostado de me surpreender.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Rascunho Aleatório.

O amor é uma nota no rodapé com uma citação de um poeta qualquer. E ninguém nunca disse que seria bom, e ninguém provou o contrário desde então.

Será que fui eu quem quis assim?

E nunca pedi sequer um conselho ou instrução. Nem atirei pedras junto à oposição. Não é agora que vou seguir a teologia da subtração. Isso é tudo parte de uma negação.

Ou ainda a redundante fonética de uma estrofe da oração.

Se pelo menos a gente entendesse que a problemática está em achar que toda ciência é exata e que todos os destinos tem um caminho só. Se apenas observássemos a constante de cada equação.

Eu esqueci. Uma forma rara de arte utilitarista. Um breve rascunho dessa face otimista. A raiva exteriorizada no spray da tinta no muro do quartel. Ou um motim no pinel.

Ninguém sabe dizer.

Nós dois sabemos que não há nada pior do que gostar de lembrar o que se quer esquecer e esquecer aquilo que queremos lembrar. Mas ninguém disse que seria fácil. E nem tem que ser.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Deicide

Remember
Only knowing the way you came from you will know how to go
Even though the unfailable truth was not invited to show
And on the end of the book you're mind is plugged in
It's up to you to decide what you want to believe
Or deicide

This is the last time. In the pocket the last dime
Into the wishing well. Into the wishing well
And how we're gonna survive another martyr to suffice
Our need to sell. Whose image we're going to sell
For profit only

Before they came we've already sold it again
Surrended by contracts. There ain't no need to explain
And on the end of the track this train is running in
It's up to you to accept and then follow in
Or decline

I've seen it long ago
Just like the blood on my door
Just like the lamb cast in gold

We are not safe. We are not safe. We are not safe. We're numb still
We are not safe. We are not safe. We are faithless. There ain't no "God's Will".

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

200

Hoje é um dia especial.

Eu e a Brutty começamos esse blog há 3 anos atrás com a intenção de exteriorizar tudo aquilo que sentíamos e pensávamos. E assim fizemos, de tempos em tempos escrevendo qualquer coisa.

A minha história, nos últimos 3 anos está aqui. Principalmente nesse ano de 2013 que tem mais que o dobro de publicações do que 2012. O triplo em relação a 2011.

Com o tempo, a gente evolui, aprende alguma coisa, torna-se mais aticulado. E hoje olho pra trás e vejo a história escrita aqui, cada momento que eu passei, cada pensamento, cada ideia.

Nunca foi minha intenção esse espaço tornar-se público, isso funciona mais como um diário onde escrevo o que eu penso. Quem quiser ler, que fique à vontade, mas escrevo para mim mesmo. Sempre fui assim. E não aconselho nada pra ninguém. O que eu chamo de "Literatura Destrutiva" nada tem a acrescentar.

E essa é a publicação de número 200. E chego nessa marca me sentindo feliz, ironicamente. Quase tudo que eu escrevo aqui é carregado de mágoa, raiva, angústia, tristeza. Mas hoje não. Hoje me sinto inspirado de uma maneira diferente. Mas não vou escrever nada, vou só escolher os 10 melhores textos da minha autoria aqui publicados:

10 -  Ego Invisível. Texto de Junho de 2012. A narrativa de um suicídio que pode ser lida ao contrário sem perder o sentido.

9 -  Epifania de 2ª Feira a noite. Texto de Maio de 2011. Certamente, uma das melhores coisas que já escrevi, um dos poucos textos construtivos

8 - Universo. Multiverso. Egoverso. Texto de Fevereiro de 2013. Hino da crise de identidade.

7 - O Gavião. Texto de Maio de 2013. Porque as pequenas coisas são as únicas que importam.

6 - O Gigante. Texto de Junho de 2013. Uma metáfora sobre o utilitarismo humano onde o indivíduo vale o lucro que pode gerar.

5 - Tudo o que eu esqueci de dizer. Texto de Agosto de 2013. Um trecho do meu primeiro livro.

4 - Um último diálogo nas escadas. Texto de Outubro de 2012. Certamente, o mais difícil que já escrevi. Auto-explicativo.

3 - Minimalismo. Texto de Agosto de 2013. Sete versos em homenagem a uma grande amiga.

2 - The King; The Crown Texto de Maio de 2013. O meu texto favorito em inglês. Sobre o fim da sanidade e a tentativa de recobrar os sentidos.

1 - A Vida em Caixas. Texto de Dezembro de 2010. Meu primeiro texto importante de verdade. Sobre a mudança e suas consequências, sempre que releio, ele se encaixa de novo no contexto.

É isso aí. Eu acho.

Um brinde ao passado que (felizmente) não vai voltar

Dizem que a vingança é um prato que se come frio. Eu prefiro dizer que se cobra ela com juros.

E com o tempo, ela virá. Eu conto os dias, em algum momento vamos nos encontrar de novo, um dia vou poder dizer tudo aquilo que na época ficou preso. Porque eu tenho a hombridade que você não tem, porque eu sou o homem que você não é.

Todo esse tempo aqui, sozinho, abandonado, traído, descartado. Você foi só mais um dos que fizeram isso, entre para a lista, pegue sua senha. Me perturbar em sonhos não adianta, nada a paga o estrago que sua falta fez. E como é bom não ter sua presença, hoje.

E parece que tornou-se um ciclo vicioso confiar em pessoas que simplesmente viram as costas - ou que vão me apunhalar assim que virar as minhas. Devo ser muito canalha mesmo.

O covarde, a avarenta, a meretriz, o ladrão, o bêbado e todos esses figurantes vivendo de imagem. Vocês são apenas capítulos, apenas passagens.

No final, o protagonista dessa história continua sendo eu. E ninguém, ninguém vai se lembrar de vocês.

E estarei bem melhor sozinho.

E mais uma coisa: sabe aquilo que vocês todos disseram que eu não conseguiria? Estou conseguindo.

Cadê o seu deus agora?