segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Doze Anos

Queria escrever uma retrospectiva desse ano. Dois mil e treze foi um dos anos mais emblemáticos da minha vida. Mas para qualquer pessoa entender, precisaria primeiro fazer uma retrospectiva dos últimos doze anos e não dos últimos doze meses. Assim dá pra entender como eu me sinto em relação a tudo.

Assim, resolvi escrever doze pequenas histórias da minha vida que aconteceram nos últimos doze anos. É algo bem pessoal e talvez seja burrrice expor isso tudo aqui, mas eu não estou me importando. Na verdade, acho que o maior covarde é aquele que tem medo de que as pessoas descubram o que ele realmente pensa da vida. Posso ser burro, mas covarde eu não sou.

Enfim, lá vai

2001

Era feriado de Sete de Setembro, meus pais haviam acabado de se divorciar, passávamos o fim de semana prolongado num sítio da minha tia em Cajuru. Eu costumava brincar sozinho quando era criança, tinha uma porção de amigos imaginários e criava incríveis situações na minha cabeça. Não me julgue por isso, eu tinha nove anos de idade. Mas faço isso até hoje, agora pode julgar.

Eu subi numa das árvores do Pomar, sozinho, longe de toda a família e fiquei lá pensando na vida. Até cair no sono encostado num galho. Acordei algumas horas depois com todos desesperados me procurando. Acharam que eu tinha caído na represa, sido sequestrado ou coisa do tipo. Quer ver o quanto alguém te ama? Só pensa na cara da pessoa quando ela finalmente te encontra depois de achar que nunca mais iria te ver. Mas até hoje, duvido que alguém tenha me encontrado.

2002 

Eu estava na Quarta Série quando começamos a estudar os astros do nosso Sistema Solar. Foi quando notei que tinha pequenas obsessões. Primeiro, fiz questão de decorar o nome de todos os planetas. Depois, de todos os ossos do corpo. Depois, queria ouvir todos os discos das minhas bandas favoritas. Até hoje procuro saber tudo possível sobre qualquer coisa que eu goste ou não.

Muita gente acha que é nerdice, mania de querer pagar de sabichão, mas na verdade é como um vício. Pra cada fase da minha vida, tive uma pequena obsessão diferente. É quase uma dependência. Não consigo gostar de nada sem me aprofundar.

2003 

Então com onze anos, assisti "O Clube da Luta" pela primeira vez. Não entendi nada e achei o filme totalmente imbecil. O então "novo" Gangues de Nova York de Martin Scorsese era meu filme favorito e tive uma das minhas primeiras obsessões: gângsters. Com eles veio a obsessão por armas de fogo. Enquanto os outros garotos se divertiam com a matança desenfreada de Counter-Strike nas Lan Houses, eu achava mais divertido ver as armas e comparar seus modelos com os reais. Acredite ou não, isso foi muito determinante para o ponto de vista político que tenho hoje.

2004 
Também fui obcecado pelo sobrenatural. Minha mãe tinha (e ainda tem) muitas histórias sobre espíritos, fantasmas e assombrações. A que eu mais gostava era a dos quadros das crianças que choram. Aqueles mesmos do Bragolin e do Fantástico. Era fascinado e amedrontado pelos quadros. Tiraram meu sono por noites e noites, mas adorava conhecer mais e mais deles. Procure no Google que via achar. Hoje não acredito em porra nenhuma em relação a espíritos ou fantasmas e qualquer coisa, mas confesso que não consigo olhar por muito tempo pra nenhum daqueles quadros. Até hoje tenho medo de quadros de qualquer tipo. E de espelhos.

2005 

Era dezoito de Dezembro, meu ídolo máximo, Rogério Ceni só não vez chover no Estádio Nacional de Yokohama fechando o gol tricolor. Estávamos eu e um dos meus dois melhores amigos então, sentados na frente do Sofá e tirando as bolas da meta tricolor. Ele era Santista, mas por causa de mim, estava torcendo pro São Paulo naquele dia (O São Paulo Futebol Clube, é certamente, a maior das minhas obsessões). Depois do fim do jogo e muita festa, meu pai apareceu bêbado na porta de casa e minha mãe chamou a polícia. A maioria dos meus amigos viu meu pai pela primeira vez naquele dia. Algemado dentro de uma viatura.

2006 

O meu outro melhor amigo fazia aulas de violão comigo no ano de 2006. Toda Terça Feira voltávamos correndo da escola para recebermos o professor César na minha casa. Ali, num violão velho e com braço empenado, aprendi meus melhores acordes. Mas ele era melhor que eu tocando. No começo, tive muita dificuldade. Em meados de Maio, perto do meu aniversário, quis desistir. Ele brigou comigo e praticamente me obrigou a continuar. Somos melhores amigos até hoje. ainda somos músicos (embora, amadores) e agradeço a ele por não ter me deixado desistir de uma das coisas mais importantes da minha vida.

2007

O meu outro melhor amigo - O Santista - foi internado em estado grave com Lupus no Hospital das Clínicas do Campus da USP aqui de Ribeirão Preto no dia 16 de Dezembro de 2007. Minha mãe trabalhava lá e me ligou pra avisar. Disse que eu poderia visitá-lo se quisesse. Eu até podia, até queria, mas precisaria que meu pai me levasse e não quis pedir pra ele por um orgulho idiota pois tínhamos brigado naquela semana. Meu amigo morreu no dia seguinte e não tive a chance de vê-lo uma última vez. Meu maior arrependimento foi não ter feito a porra da visita. Nunca derrubei uma lágrima por isso, mas escrevo uma carta para ele todos os anos nessa data. Não acredito em vida após a morte, mas gosto de pensar que ele consegue ler.

2008 

Nessa época, minha mãe fazia Plantões à noite no hospital. Como eu estudava à tarde, a gente pouco se via dentro de casa e eu sentia muita falta dela. Então, toda noite, fazia uma garrafa de café e ficava acordado a madrugada inteira esperando ela chegar. De manhã, tomávamos café juntos (eu tinha que fazer outra garrafa para nós dois) e ela me contava sobre o trabalho e os causos estranhos do sexto andar do Hospital das Clínicas. EU dormia o resto da manhã e durante a aula (quando eu ia). Meu sono nunca mais foi o mesmo, mas não me arrependo nem um pouco. Hoje minha mãe mora em São Paulo e eu morro de saudades dela. E essa é a mais doce lembrança que tenho.

2009 

Elaborei, então, um plano detalhado para atirar em todos os colegas de classe do terceiro ano. Era tudo muito bem organizado. Eu havia até cronometrado o tempo que levava para sair do banheiro, andar pelo corredor e entrar na sala numa caminhada moderada. Tenho passos muito largos e ando muito todos os dias. Então estou habituado a contar isso. Eu tinha a ideia de fazer isso numa Quarta Feira onde a grade de horários ajudaria na excecução. Nunca fiz porque não tinha uma arma.

2010 

Meu aniversário de 18 anos foi o pior de todos eles. O ano de 2010, em si, foi uma porcaria. Mas teve um momento muito marcante na minha vida. Foi em Julho e eu estava assistindo um certo filme que quem manja conhece. E nesse filme um personagem dizia que conhecer o amargo lhe permitia saber apreciar o doce. Lembro que na época só consegui pensar: "To esperando conhecer o doce até hoje".

2011 
Eu voei pela primeira vez em 26 de Janeiro de 2011. Venci um dos meus maiores medos: a altitude. Consequentemente, ganhei meu maior medo desde então. Lá de cima, vendo o mundo tão pequeno, percebi como somos insignificantes. Então percebi que precisaria fazer algo grande da minha vida, algo que deixasse um legado para reverter a minha situação como insignificante. Até hoje, meu maior medo, é passar a vida como um anônimo qualquer que viveu e morreu sem grandes realizações, sem algo para ser lembrado. Apenas um número

2012 

No último dia de 2012, mais uma vez dentro de um avião, fiz a minha última oração. Há muito já não falava com Deus. Há certo tempo, já não acreditava mais Nele. Mas pedi, desesperadamente, que derrubasse aquela aeronave. Como sempre, minha prece não foi atendida. De fato, 2012 foi um ano péssimo na minha vida e, pela primeira vez, senti-me derrotado e sem esperança alguma. Na verdade, até hoje, não sei se alguma coisa mudou de lá pra cá. Ainda nesse mesmo dia, vi a casa que morei por um ano e meio vazia, escura e desabitada. Soube, então, que poderia voltar a morar lá, mas eu também sabia que não seria mais a mesma casa, nada mais seria o mesmo. E senti vontade de incendiar aquela casa só pra não ter aquele souvenier da vida perfeita de outrora. O ideal mesmo, seria o avião, comigo à bordo, ter caído sobre a casa.

Basicamente, essa é minha vida entre 2001 e 2012. Esses doze anos marvilhosos e cheios de aventura com os quais presenteio vocês.

E, no final, tanto faz mesmo

Nenhum comentário:

Postar um comentário