segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Objetos na Via

Uma vez me perguntaram porque escrevo tanto sobre coisas negativas, violentas, depressivas.

Entenda, não é por gosto. É só uma tentativa de captar o ser humano em sua essência mais bruta e naturalista possível. E toda essa inspiração vem de experiências próprias.

E lembro-me desse incidente na Linha Vermelha. Lembro do vagão lotado e do meu malabarismo com as malas. Pra quem não sabe, a Linha Vermelha (Linha 3) do Metrô paulistano é que a que faz a rota Leste (Corinthians-Itaquera) e Oeste (Palmeiras-Barra Funda).

Foi, se bem me lembro, em algum trecho entre as Estações Pedro II e Brás.

O trem parou na via. Todos sem olharam como sem entender porque. Estava nublado, mas não chovia. Deviam ser 17h30 se eu não me engano.

Momentos depois a voz fúnebre no sistema de som do metrô deu a notícia:

- Senhores passageiros, a viagem teve de ser interrompida para retirada de "objetos" da linha. Agradecemos a compreensão e em poucos momentos daremos continuidade à viagem.

E já perceberam como todo operador do Metrô de São Paulo tem uma voz de coveiro de filme de terror?

Alguns momentos se passaram, talvez uns dez ou quinze minutos e eu suando feito um porco, cansado, louco para chegar em casa. Imaginava que caralhos ele queria dizer com "objetos" na linha do trem.

Finalmente o trem se moveu - ainda em velocidade reduzida - e se seguiu seu caminho. E alguns ainda reclamavam quando passamos pelos "objetos" retirados da linha.

Uma perna. Na verdade, o que sobrou dela.

Alguém havia se atirado na frente do trem anterior. O cara virou uma mancha, não sobra muito de você quando se entra na frente de um trem.

O nível de comoção das passageiros do metrô foi zero. Os funcionários do Metrô e da Perícia que recolhiam os "objetos" também não pareciam nem um pouco incomodados com a situação. Cada um seguiu sua vida e pronto, foda-se o cara que virou recheio de cascalho.

Agora você entende o que eu penso ao escrever.

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