terça-feira, 13 de agosto de 2013

Tudo o que eu "esqueci" de dizer

Já com toda a casa dentro de caixas, ela encontraria o bilhete na porta de entrada. Ali no chão, dobrado, até mesmo amassado como se alguém o enfiasse por debaixo da porta do apartamento. Ela tavez abriria a porta para ver quem deixou o recado, mas sem sucesso. Ela olharia e já não veria ninguém.

Ela fecharia a porta e - pelo menos assim gosto de imaginar - voltaria para dentro carregando o bilhete com aquele olhar distante, aquele mesmo olhar que me sequestrava muitas vezes.

Desdobraria o bilhete com suas mãos cuidadosas, se esforçaria para ler meus rabiscos, mas reconhecendo naquele mesmo momento a minha caligrafia.

Seus olhos devorando minhas palavras no bilhete amarelado.

"A verdade é que ninguém deveria viver com as coisas que vimos. Mas ainda sim, estamos aqui.

Não é nada fácil acordar pela manhã sabendo que os melhores dias de nossas vidas já se passaram e não vão mais voltar. E por quê deveriam afinal?

Isso é tudo o que temos. Almas sem rumo, já longe de seu auge à beira da existência tentando entender coisas que nunca entenderemos de verdade. Embriagados pela culpa, encontrando mais dúvidas do que respostas.

A única coisa que peço agora é que continues em frente, não importa o que aconteça. Encontre, então, novos motivos. Qualquer motivo que te faça sair daqui. Qualquer motivo que te leve para qualquer lugar.

O que sobrou das nossas vidas pode se transformar em algo mágico.

E talvez, apenas talvez... nós possamos ver alguma coisa por entre as cinzas do passado. E eu espero ver você.

S. F."


Talvez, ela se emocionasse sem esconder as lágrimas como sempre fez. Talvez sentisse ainda mais raiva de mim. Talvez viesse correndo me visitar no inferno. Talvez.

Nunca saberei. Nunca enviei o bilhete.

Ainda vejo aquela linha amarela dividindo minha vida, me fazendo duvidar de tudo, me fazendo duvidar de todos. Me fazendo duvidar, principalmente, de mim.

E no final, cada qual com sua Sofia, cada qual com sua linha amarela.

Um comentário:

  1. Infelizmente todos vivemos da falta! falta de algo... Se temos não valorizamos, se não temos, queremos ter... Enfim, somos seres humanos, não somos perfeitos.

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