segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Solitário Apanhador

Acordei numa manhã sonolenta. A luz do sol atravessando pela fresta da janela do quarto onde dormi sozinho. Lamentei sem reclamar a minha própria miséria. E pensei, sem me demorar, no ano que acabara e em tudo aquilo que estava mudando. Todas as pessoas e eras que ficaram para trás, como línguas mortas enterradas no nosso passado onde, ás vezes, é melhor não procurar nada.

Atrasado como sempre, apressado como nunca. O fim do ano faz quase todo mundo se apressar. É como se todos sentissem o ano acabando e, com ele, a necessidade de fazer o máximo de coisas possíveis antes dos fogos de artifício iluminarem a noite que traz o Ano Novo.

E com o ano começando, estive tão confuso que me estranhei comigo mesmo. E me estranhei com meus amigos e ouvi o "click". Aquele som característico de quando percebo que minha vida está entrando numa nova fase. É um estalo que vem não sei bem de onde. Tem um som bem característico e que me acorda para o fato de que estou ficando cada vez mais velho.

Dessa vez, o click foi ao perceber que todos os meus sonhos se foram. Não existe nenhuma ideia original, nada que eu queira que fazer que me tornaria plenamente feliz. Absolutamente nenhum dos meus sonhos existe mais.

Então, de tempos em tempos, eu roubo o sonho de alguém e finjo que ele é meu.

É a única saída que eu encontrei, é a única maneira de manter minha mente sã. Mas ser um Apanhador de Sonhos exige muito de você. Não é simplesmente se simpatizar com aquela ideia pré-concebida sobre alguma coisa. Não é apenas abraçar aquele desejo. Não amigo, é bem mais que isso: é necessário SER aquilo.

Nós sabemos que uma simples e pequena ideia plantada da maneira certa pode se tornar uma grande obsessão. Aprendi a fraudar as minhas próprias convicções. Assim como sabotei meu próprio conceito de fé. Devagar, estou desconstruindo o que aprendi a ser. Redefinindo objetivos e aspirações, abrindo velhas janelas para que o ar e a luz possam entrar.

Eu não tenho mais medo de estar sozinho. E só quando percebi isso, deixei de me sentir só. E apanhei esse sonho como se fosse o mais efêmero e bonito deles. Como se fosse o último de minha vida, como se pudesse me elevar à superfície. E agora eu ando sobre as águas onde costumava me afogar.

Acordei noutra manhã sonolenta. A luz do sol atravessando pela fresta da janela do quarto onde dormíamos. Refleti, como um espelho, a luz que entrava. Me encantei, como criança, com a luz dos olhos. E pensei, por muito tempo, no ano que começara mudando muito do que eu pensava conhecer. Então apanhei esse último sonho, deixei pra trás todas aquelas velhas histórias, enterrei-as no passado onde, agora, eu prefiro não procurar nada.

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