sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Inferno de Parafina

Nem no mais pessimista de meus devaneios, pensei que começaria outro ano consertando erros do ano anterior. Mas aqui estou, confuso, perdido e sem vontade de continuar. Embora seja mais fácil deixar pra lá, minha consciência implora que a verdade encontre seu caminho rasgando pela minha garganta e saindo pela minha boca. Na ponta da minha língua, entre cada um dos meus dentes.

Vou tentar arrumar a bagunça que você deixou, vou tentar fazer tudo certo pelo menos dessa vez. E é difícil saber o que pensar. O próximo passo mostra-se há uma milha de distância. Me entenda, por favor, eu nunca quis que fosse assim, mas como dizem, o "daqui pra frante" fodeu com a gente. Uma pena. Eu já sinto sua falta.

Tento parar de me perguntar sobre o que faria se pudesse voltar. Tanto faz. Sabíamos o que iria acontecer, não adianta fazermo-nos de chocados. Não é surpresa alguma. Você quis porque quis. Eu quis porque... eu não sei.

Mas sigamos em frente. Hoje é uma noite de espetáculo, o último deles. O circo precisa do palhaço e não existe outro como eu. Só prometa rir ou chorar, aplaudir ou vaiar. Só não aceito que não sinta nada. É algo que eu não me permito permitir.

Só me permito entreter.
É o que eu faço.
É o que eu sou.

É o espetáculo do ano: o palhaço enlouquece, pinta sua obra prima com meio litro de Gasolina, uma caixa de fósforos e um pedaço de estopa. O resto fica por conta da lona coberta de parafina que queima rápido, despenca, derrete e sufoca com a fumaça negra de sua combustão. O circo veio à cidade pra ficar de verdade. Artista nato, o palhaço pinta a obra de seu inferno pessoal que agora pode compartilhar com todo o público. Bravo!

Agora o público já não aplaude, já não tem mais música nem festa, as luzes se apagam e o palhaço já não ri mais.

Espero que tenha valido a pena pagar o ingresso pra ver o circo queimar.

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