terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Faux Pas - Um Ensaio Sobre a Ansiedade

Quando eu respiro, o ar que preenche meus pulmões é tão denso que eu acredito estar me afogando. Sentindo-me meio vivo, meio morto, sempre à espera. À espera de qualquer coisa. Algo que eu sempre sei que vai acontecer embora nunca saiba o que é. Embora esse algo nunca aconteça.

A ansiedade como você conhece é bem diferente da qual eu me refiro. Não é aquele sentimento de expectativa ou medo antes de rever uma pessoa importante que há muito já não vê ou antes daquela entrevista de emprego super importante.

A ansiedade a qual me refiro é mais visceral e escura. Escura como nódulos - ou insetos, ou aviões, ou nuvens que formam figuras de insetos e aviões - que enxergo por debaixo das pálpebras todas as vezes em que fecho os olhos. É o sentimento de completo vazio e insignificância. A ansiedade a qual me refiro é o monstro que me segura na cama e me impede de levantar pela manhã todas as vezes. Porque ele me convenceu de que eu não vou conseguir completar coisa alguma.

Os sintomas do Transtorno de Ansiedade Generalizada incluem fadiga, irritabilidade, constante sensação de apreensão, dificuldade de concentração, palpitação, taquicardia e tensão muscular. Basicamente, a sensação que você tem num acidente de trânsito. Logo depois daquele momento onde você percebe que não dá mais tempo de frear e a batida é inevitável. Ou quando descobrem algo que não deveriam. Ou quando alguém te pega no flagra fazendo algo que não deveria. Eu chamo carinhosamente esse sentimento de "fodeu". Ter ansiedade é estar com a chave do "fodeu" ligada o tempo todo sem nem saber o porquê.

Felizmente, nunca fui diagnosticado e bem sei que ter os sintomas não quer dizer nada, mas eu também nunca procurei ajuda. E gosto de acreditar que uma coisa não tem a ver com a outra. Mas vivo com a constante sensação de ter cometido uma gafe e que todos estão prontos para rirem e debocharem de mim. Então eu tenho medo de dizer um monte de coisas, medo de ir a um monte de lugares, Medo do medo.

E exatamente pelo medo dessa "gafe invisível" eu deixo de fazer muitas coisas. Para evitar que essa sensação seja intensificada, para não dar mais motivos para ser alvo de deboche. É um estado de alerta e auto consciência constante. Sempre acho que meu cabelo está desarrumado. Sempre acho que tenho buracos nas roupas e nos sapatos. Fico paranoico quando qualquer pessoa olha pra mim por mais que alguns segundos.

É ter sono e não conseguir dormir porque - MEU DEUS, TEM TANTA COISA PASSANDO NA MINHA CABEÇA AGORA QUE PARECE QUE ELA VAI EXPLODIR! É não ter sono, mas não levantar da cama porque o mundo lá fora quer caçoar de mim. Não lhes darei esse prazer. Vou dormir mais dez minutinhos para eles saírem da minha janela.

Tem dias que dá pra levar numa boa, tem dias que se torna insuportável. Nos primeiros, eu levo numa boa, desencano. Ao invés de ligar o "fodeu" eu ligo o "foda-se", o irmão gêmeo antipático. E tudo é ótimo e bonito e sensacional. Porém, nos dias ruins em que eu não consigo ler um livro, em que eu demoro duas horas pra redigir um texto porco como esse, dias em que não consigo ver o sol mesmo que ele esteja lá fora, rachando o concreto num calor de trinta e seis graus, eu tento me esconder de mim mesmo.

Ser fitado por pares de olhos invisíveis, criticado por pares de lábios inexoráveis. Saber que é tudo coisa da minha cabeça não ajuda com a taquicardia e nem com as náuseas. Não ajuda com as dores de cabeça e o vômito. Saber que é tudo criação da minha cabeça não faz com que deixe de ser real. É o inimigo invisível que destrói minha auto estima e meu bom senso. É falhar pelo medo de falhar. É andar desajeitado por tentar calcular feito máquina os passos sobre o pavimento.

Nesses dias, eu respiro fundo e tento me convencer de que vai passar. Nesses dias eu me deito um pouco mais, me cubro um pouco mais, me deixo um pouco mais.

Só por mais dez minutinhos.

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