sábado, 22 de novembro de 2014

Carta do Exílio

Três dias desde que toquei os pés no chão dessa cidade e já parece que se passaram alguns meses. É bem cansativo e ao mesmo tempo tedioso estar aqui. É claro que é bom ver minha mãe, aconchegar-me nos seus abraços ternos e suas palavras amigas. Eu sempre sinto falta dela quando estou longe.

Tenho passado o dia todo lendo. E conversando com minha mãe. Fazendo mais o primeiro do que o segundo, é verdade. É irônico saber que esse é o único lugar em que me sinto em casa, mas o único que sei que não posso morar.

Não tenho tido tanto saco para música como normalmente tenho. Também tenho pensado em começar a gastar dinheiro. Há pouco tempo, havia tantas coisas que eu queria comprar que vivia a lamentar por não ter dinheiro para tal. Hoje o tenho e não sinto empolgação nenhuma em comprar qualquer coisa.

Ao pensar nisso que fiz uma constatação impressionante: estou me tornando chato.

Eu sei que chato sempre fui, mas agora toma um sentido completamente diferente. Sempre fui inconveniente, irritante e teimoso demais. Mas estou me tornando rabugento, introspectivo, conformista - tenho medo dessa palavra. Não estou vendo graça em coisas que antes me faziam rir, também não me empolgo tanto com coisas que antes me moviam. Nem sequer assisti o último jogo do meu time. Então sabemos que tem algo errado. Também não tenho tido saco para as pessoas, por isso tenho evitado falar com todas elas.

Estou tentando me acostumar com meus óculos e, por enquanto, tenho me sentido extremamente desconfortável com ou sem eles. Quando os coloco, acabo por suar na testa e manchar as lentes, o peso da armação sobre o nariz também incomoda. Quando os retiro, continuo enxergando uma sombra de onde outrora esteve a armação na minha visão periférica. Fora o fato de que sempre me esqueço e acabo enfiando os dedos nas lentes quando tento coçar os olhos.

Tenho pensado no futuro. Tenho tentado planejar algumas coisas a curto e a médio prazo. Me surpreendi quando percebi que já tinha pelo menos dois planos para colocar em prática já em Janeiro. Tento me ver dirigindo e acho engraçado. Consigo me ver estudando e me embrulha o estômago. Ás vezes me vejo deixando a cidade e até mesmo o país. Acredito que em anos foi a primeira coisa que eu quis com força o bastante para tentar.

E tem coisas que continuam como há uma ou duas semanas: tenho que me lembrar de comer e tomar banho. Também me policio o tempo todo com os cigarros que eu passei a fumar em quantidade muito maior. E aquele vazio que eu sinto ainda está aqui, tão devastador quanto antes. Mas percebi que se você não olhar para a escuridão por muito tempo, não vai ter como sua mente lhe pregar peças. Se todo mundo consegue ignorar isso, talvez eu também consiga, tem funcionado por enquanto. Eu acho.

Então constatei outra coisa: queria ter alguém com quem conversar.

Atualmente, não tem ninguém disposto a ouvir sobre as coisas que eu tenho a dizer. Nem mesmo minha mãe. Nem mesmo meus melhores amigos, mas eu não culpo ninguém. Todo mundo fez o que pode por mim, já tá na hora de começar a crescer aprender a lidar com os próprios demônios.

Então não vejo mais tanto motivo para falar sobre isso, dramatizar e romantizar tudo aquilo que eu sinto. Eu já sei o que é que me incomoda. Está lá, não vai mudar. O jeito é lidar com isso e incomodar o mínimo possível as outras pessoas com essas coisas pequenas. E não me incomodar com as coisas delas, é o que todo mundo faz. Talvez apostar no óbvio seja o mais correto.

E uma vez disseram que as coisas pequenas eram tudo o que importava.

Mas agora acho que eu deveria parar de usar filmes e músicas parâmetro para entender e pensar a vida. A verdade é que, na realidade, tudo é muito mais prático - e menos bonito.

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