quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dois Dedos D'água

Várias pessoas me disseram, nos últimos três meses, que eu deveria visitar um psicólogo.

Basicamente, pagar um profissional para ouvir todas aquelas coisas que eu tenho pra dizer e tentar me orientar sobre o que fazer. De fato, essas pessoas disseram pra eu pagar um especialista para fazer isso porque elas estão de saco cheio de fazer de graça.

Eu estou bem, obrigado. Não vou precisar de ajuda alguma por um bom tempo. Nem de piedade ou pena. Muito menos de julgamentos e ironias. Eu sei dos meus problemas (acho que todo mundo sabe).

Várias pessoas me disseram que o fato de eu não querer essa ajuda significa que eu não tenho problema algum e/ou não estou lutando contra ele. Da mesma maneira que uma pessoa que - seja lá qual for o motivo - não quer participar das sessões de quimioterapia não tem câncer de verdade. E aquela que se nega a usar uma prótese nunca sofreu uma amputação de verdade. Ou pior: essas duas pessoas se colocaram nessa situação simplesmente porque quiseram e podem sair dela assim que desejarem. Só não estão "se esforçando o bastante".

Estou vivendo submerso, mas descobri que o mar é raso, se eu lutar, nunca vou me afogar. Basta levantar o queixo e ficar nas pontas dos pés. Apenas dois dedos d'água me separam da superfície. Então corto meus pés em corais e estico meu corpo até seus limites anatômicos para projetar meu rosto pra fora d'água e, assim, conseguir respirar.

Cada um luta como pode, ninguém pode dizer que eu não estou tentando. Uns encontram conforto dentro de uma igreja, outros num consultório ou numa embalagem de remédios controlados. Tem aqueles que se agarram a coisas, a outras pessoas, às suas atividades.Mas alguns só aprendem a aumentar sua capacidade pulmonar.

Eu posso me afogar, eu sei. Mas não vou sem brigar até a exaustão para ficar aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário