quarta-feira, 25 de junho de 2014

Por quê eu não me rendo?

A noite é fria e cheia de todos os piores terrores que se possa imaginar. Ao menos para mim, que passo a madrugada torturado por pensamentos mal quistos que invadem as galerias da minha mente, carregam meu sono para longe e me atormentam até que eu esteja exausto demais para lutar. Eu morro e sonho que estou caindo e só renasço na manhã seguinte, destroçado, mas sempre com força o bastante para me levantar. Sempre mais tarde do que deveria, sempre cedo o bastante para cumprir meus horários.

Meio vivo, me arrasto pro trabalho. Meio morto, mantenho minha mente ocupada lutando contra tudo que me atormentou antes do sol nascer. A minha rotina consiste de travar uma luta constante contra mim mesmo e que eu sei que nunca vai terminar. Então por quê eu não me rendo?

Para outros, a noite é quente e repleta do melhor que a vida pode oferecer. Amigos, copos de bebida na mão, risadas, finais felizes com quase conhecidos. Quase pessoas. Sem sentimento, sem questionamento, apenas o prazer pela perfeita simetria de corpos quentes e corações frios. Deve ser divertido entender na prática como funciona cada um de seus nervos. Ao menos para quem não vive perseguido pela soma de todos os seus medos.

Rostos, nomes, formas, todos são esquecidos pela manhã. Já nem se tem ideia dos números. Felizes, vão viver suas vidas quase plenas. Com um sorriso cerimonial, fingem ser tudo o que todos querem ser. Acreditam na própria mentira usando a liberdade como pretexto para seus exageros e devaneios.

Perfeitas vidas de aparências. Perfeitos babacas sorridentes. Toda essa felicidade vem do álcool em suas bebidas, da noite com estranhos que mal se lembram ou da inflação de seus egos a cada clique numa rede social?

Ao menos eles são felizes (são?). Por quê não me juntar a eles?

Por quê eu não me rendo?

Porque eu detesto a descartabilidade escondida por trás da faceta de se viver a vida. Dinheiro, amigos, trepadas. Tudo em porção única e tão dispensável quanto uma porta de tela num submarino. A filosofia da liberdade própria que mascara a escravidão da futilidade. Sutil piada pronta. Não estou com humor para ironias à essa altura.

Se cada toque fosse pelo menos "meio" sagrado como eu acredito ser, talvez eu não estivesse aqui escrevendo isso, mas sim dormindo como todos conseguem fazer sem dificuldade alguma. Talvez não acordasse todas as manhãs enojado do que eu sou. Já me é comum encarar como impossível o que parece fácil e simples para todos. Estudar. Dirigir. Fazer amigos. Conquistar garotas.

E não, não sou uma vítima de mim mesmo. E nem de alguma teoria maluca que me confortaria ao dizer que o mundo conspira contra mim. Eu recuso esse rótulo como recuso ser como todos os outros. Não sou e nem quero ser descartável, obrigado. Muito menos um peão num tabuleiro, sacrificado por um rei que mal deixa a sua casa.

Eu sou um caso perdido e extremamente orgulhoso disso. Apenas me incomodo com as expectativas que terceiros criam sobre mim.

Eu tenho alertado. Eu grito há sete anos a verdade sobre mim e essa doença que eu acredito ter. Ninguém parece escutar. Ou talvez apenas não se importem, afinal, todos tem o seus problemas que, obviamente, são maiores, mais complicados e mais importantes do que os meus. E agora, por fim, começo a perder minha voz.

Então por quê eu não me rendo?

Porque esquecer nunca fez sentido pra mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário