quarta-feira, 11 de junho de 2014

Calendário

Onze de Junho. Amanhã começa a Copa do Mundo. Há pouco tempo, me parecia que esse dia nunca chegaria, mas chegou.

Já estamos na metade do ano, eu já estou com vinte e dois. Já estamos quase na metade da década. Já tem mais de meia década desde que eu saí da escola. O primeiro terço da minha vida já acabou.

Já fazem cinco meses desde que estamos juntos. São cento e cinquenta e três dias. Ou seriam cento e cinquenta e quatro? É quase um semestre, de fato. Dá pra se esquecer de muita coisa, dá pra lembrar de muitas outras.

Como o desenho animado esquisito que estava passando na televisão. O calor de uma manhã de sábado. O vento frio entrando pela janela do quarto. O cheiro de baunilha no meu travesseiro. Tua voz ecoando pelo quarto, o que eu jurava ouvir mesmo quando você não estava lá. A ansiedade de colocar a cabeça na janela e te ver na calçada com as pernas trançadas me ligando pelo celular antes de subir pelo elevador. As longas caminhadas pra lugar nenhum. Até porque, contigo, não importa muito o lugar pra onde esteja indo, o "ir" é mais importante do que o "chegar".

São mais seis meses até o fim do ano. São dezoito até você se formar. Há cinquenta e quatro eu me confesso com as paredes da minha casa esperando que elas me digam o que eu devo fazer. Enquanto isso, eu finjo que sei o que estou fazendo.

São quase cinco horas de viagem até a casa da minha mãe. Onde ela poderia me dizer o que fazer. Mas tem coisas que nem ela sabe.

À essa altura, eu deveria estar me desdobrando com minha monografia, meu trabalho e ainda ter tempo pra beber com meus amigos e me divertir. Eu já deveria estar entrando no último semestre.

Não vai rolar. E não tem um dia que eu passe sem me preocupar com isso.

Nada na minha vida é normal. É assim que tem sido há vinte e dois anos. E isso não é um clichê, quando eu digo que nada é normal, é nada mesmo. Você sabe.Quando eu abro a boca, nem mesmo meus amigos entendem o que está acontecendo. É como se eu falasse num dialeto próprio que só eu consigo decifrar. Ás vezes, nem eu.

Talvez seja melhor assim.

Faltam oito anos pra eu completar trinta. E os último oito anos passaram muito rápido, sinto que os próximos passarão ainda mais depressa. Será que até lá muita coisa vai ter mudado?

De qualquer forma, eu continuo caminhando do seu lado. Mais por andar contigo do que para chegar em qualquer lugar. Mas um dia chegaremos, afinal. Qual o próximo passo?

Você ainda vai estar lá quanto todas as luzes se apagarem? Queria que ficasse pra me ouvir cantar.

Eu amo você em todas as suas formas. E amo o fato de poder te ver crescer a cada dia. Odeio o fato de não acompanhar o ritmo de tudo isso. E eu sei que um dia eles vão nos comprar com promessas de estabilidade e futuro. Não há muito o que se fazer a respeito.

Eu tenho medo. O tempo todo. Mas uma bela paz de espírito quando estou com você.

Como quando eu acordo no meio da noite fico vendo você dormir. Pequenos momentos que eu nunca queria que acabassem. Talvez eu faça isso pra me certificar de que você ainda está lá. Respirando do meu lado.

E eu não sei como esse texto termina. Talvez o calendário não seja tão útil para medir o tempo nessas horas. Talvez vinte e dois anos não sejam só vinte e dois. Talvez cinco meses não sejam apenas cinco meses. Talvez nosso tempo não tenha necessariamente um fim da forma que a gente entende.

E talvez não tenhamos tempo.

A única coisa da qual eu realmente tenho certeza é que nossa caminhada é longa e virtuosa. E não importa muito onde ela vai nos levar. O mais importante é estar contigo até lá.

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