terça-feira, 5 de agosto de 2014

O Salto

Não é bem novidade o que eu venho vos contar, mas gostaria de pontuar e esclarecer.

Estranhamente, eu sinto uma gigantesca fascinação pela morte. Não sou do tipo de frequentar cemitérios, acreditar em outros mundos ou apelar pra religião. Vejo beleza na coisa em sua mais pura e singela essência: o fim da vida biológica.

Provavelmente, se fossemos imortais, a vida seria uma experiêncua torturante ou no mínimo tediosa. No mesmo passo, se soubessemos quando, seria caótica ao extremo.

A certeza da morte e a dúvida sobre quando vamos encontra-la é um dos pontos mais interessantes e filosoficamente bonitos da existência.

E ao mesmo tempo, considero vital para o entendimento do valor da vida a noção do suicídio. Sim, flerto com ele há anos, mas nunca quis marcar um encontro. Como estamos a mercê do destino, o suicídio é o maior sinal de rebeldia. Escolher o momento exato do fim de sua vida é digno dos deuses.

Mas não, não é algo que passe pela minha cabeça no sentido literal da coisa. O mundo ainda vai carregar meu peso por muitos anos, ao contrário do que pensam, não vou me jogar do parapeito do edifício e aterrissar com maestria 31 metros depois.

Eu ainda tenho muitas pessoas para incomodar. Eu não posso ir agora.

Mas, como disse, tenho apreço pelo significado da coisa. Como eu já escrevi outrora, no espaço de tempo entre nosso nascimento e nossa morte vivemos várias vidas, e às vezes, nenhuma. Mas dificilmente vivemos uma vida só.

Nós nascemos a cada ciclo que se inicia. E morremos a cada ciclo que se encerra.

Dessa forma, como sabemos, todos vamos morrer algumas vezes antes do fim de nossas vidas biológicas. Mais precisamente, todas ás vezes que olharmos para trás e percebermos que as pessoas que éramos já não existem mais.

O suicídio que me fascina é a abreviação de um ciclo. Deixar de existir como a pessoa que sou antes que isso aconteça de maneira natural. E abandonar essa vida que já se mostra improdutiva e redundante.

Esse é o salto que eu penso em realizar todos os dias. Porque, parte de mim acredita que será melhor assim. Pra mim e para todos os outros.

Então espero o momento certo para meu salto.  Para desistir de tentar descobrir onde estão todos os meus amigos. Para deixar de ser um nada por não saber quem sou.

E um dia, quem sabe, encontrar um lugar pra me sentir em casa.

Talvez eu já esteja no lugar certo. O problema é ser a pessoa errada.

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