quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Cinzeiros, Cães, Gatos e Silêncio

Você só percebe quantas pessoas a sua volta fumam quando decide parar.

Não importa aonde vá, sempre haverá alguém acendendo um isqueiro, cobrindo a chama com a mão e tragando o cigarro até que a ponta queimando se ilumine fazendo a fumaça subir pelo ar. É engraçado como tudo isso soa diferente quando a gente tenta largar o vício. O gosto de tudo muda, você volta a sentir cheiros que antes não sentia, a respirar de uma maneira diferente. É legal acordar de manhã e não estar com o nariz lotado de secreção, não estar com dor de garganta, tosse ou um gosto forte de alcatrão na boca. É horrível como o tédio cresce vertiginosamente quando estou sem um cigarro.

De fato, to longe de querer ser saudável ou de tentar me cuidar de verdade. Só preciso de um vício novo, uma coisa nova para me matar aos poucos. Um maço de Marlboro anda beirando os sete reais e, do jeito que as coisas estão, tornou-se um vício que eu não posso mais custear. Na saúde, não vi nenhum reflexo, no meu bolso, é imediato. Mas, mesmo assim, daria tudo por um cigarro agora, para esquecer que hoje tem o jogo de uma vida, para esquecer a faculdade que eu não consegui entrar por mero detalhe (bola na trave caprichosa do destino). Para esquecer toda a raiva que eu guardo aqui dentro cerrada a sorrisos e piadas que fazem com que ninguém acredite que eu possa odiar tanto qualquer coisa.

Eu só queria acender um cigarro para esquecer um discurso sobre cães e gatos. Eu só queria tragar a fumaça pra dentro do pulmão junto com todas aquelas coisas que eu tinha para dizer. Sufocar tudo de uma vez imerso no silêncio da noite interrompido apenas pelo estalo do tabaco em chamas.

E me sufocar devagar, esquecer tudo isso para me lembrar: o silêncio é o melhor discurso que eu posso fazer. É o único que todo mundo vai querer ouvir.

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