sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cento e Oitenta e Dois Dias de Verão

Eu poderia escrever duas mil páginas para falar sobre isso. Poderia publicar uma antologia sobre todos esses dias. Sobre esses últimos seis meses. Sobre como foi complicado no começo, sobre como tem sido leve desde então.

E colocar no papel com palavras em tinta nesse caos que é o meu vocabulário como uma tempestade de orações atiradas ao mar, carregadas pelo vento. Só pra contar como foi difícil não te querer desde o princípio dos princípios.

E sobre a luta para não trair os próprios princípios naquele começo.

Ou sobre como eu tagarelava e andava de um lado pro outro bebendo cerveja e fumando um cigarro atrás do outro tentando explicar o que eu pensava sem conseguir me sentar de tão exaltado. Sobre como eu me sentia devorado pelos seus olhos desde então, seduzido pelas suas palavras numa noite de Janeiro.

E se é sexta feira, é melhor desligar a televisão se a companhia é a melhor programação.

Seja o toque, seja o cheiro ou a luz dourada que atravessava a janela do quarto enquanto eu acordava com você olhando fundo nos meus olhos, como se pudesse me despir e me desorganizar de dentro pra fora. E caminhar numa manhã quente de verão por alguns quilômetros e não conseguir parar de sorrir e olhar pra trás voltando pra casa.

Quando me vi substituindo longas caminhadas cabisbaixo, sozinho, debaixo do sereno sentindo o cheiro de sangue e alcatrão pela troca de sorrisos e olhares tomando sorvete numa noite quente. Troquei meu muro das lamentações por uma sagrada oração de três palavras que jurei nunca mais ousar dizer em voz alta.

Sobre como você vai ter alguém que vai te amar como você merece um dia. Mas hoje à noite eu sou tudo o que você tem. E sei que minha voz não é grande coisa, mas também sei que vai ficar pra me ver cantar de olhos fechados na ponta dos pés.

Poderia escrever sobre levar macacos para ver outros macacos no zoológico. Sobre as noites acordados discutindo política e religião como se pudéssemos salvar o mundo. Ou sobre como minhas mãos voltaram a tremer quando eu penso num futuro que nunca vai chegar. Sobre como tem dias que é difícil amar você.

Sobre como não é mais difícil dizer essa palavra de quatro letras.

Poderia escrever tantas coisas, tantas histórias. Seria tudo em vão. Jamais conseguiria captar com perfeição o tamanho do significado que tudo isso tem pra mim. Jamais conseguiria um daguerreótipo capaz de registrar a presença do amor. E mesmo assim, sei que ele existe. É a fé que eu pensei ter perdido.

Não há muito o que escrever para descrever esses cento e oitenta e dois dias de verão que começaram naquele Janeiro - onde era verão de fato. Existem coisas que são indescritíveis. Mas espero que não se importe já que eu tentei colocar isso em palavras.

E sei que vai reconhecer cada referência e cada pedacinho nosso nesse emaranhado de palavras que eu insisti em criar. Então chega perto, venha aqui. Quero te contar um segredo.

Mas acho que você já sabe não?

Eu te amo.

Só um pouquinho.

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