domingo, 6 de abril de 2014

All in

Nas mãos suadas, as duas cartas, um dois e um três de paus.

Na mesa, outras cinco:

- outro dois de paus;
- um três de ouros;
- um Rei de Ouros;
- um quatro de Espadas;
- a última carta ainda virada.

Todos da mesa já desistiram do jogo, restam apenas nós dois.

Ele tem mais fichas, parece otimista, deve ter uma boa mão, mas também pode estar blefando. Nunca vejo a diferença. Dobra a aposta e espera minha reação.

Posso sair, desistir. Se eu cobrir, posso perder tudo.

Não é só dinheiro que está em jogo. Não são só fichas. Não é só um prêmio.

É uma perspectiva, toda uma vida.

Se eu vencer, não sou eu que levo o prêmio. Se eu sair, fico com o que tenho. Se eu perder, perco tudo.

Mas lembro que não é por mim que estou jogando

Tenho dois pares, mais um três ou outro dois e eu venço. Mas se ele tiver dois quatros, dois três, dois dois ou dois reis na mão, ele vence se qualquer uma das cartas da mesa dobrarem.

Suei frio.

O dois ou o três que pode estar no final podem ser melhores pra ele do que pra mim. Talvez nem um Full house seja o bastante a essa altura, principalmente com cartas tão baixas.

Eu aposto tudo. Eu sei que tenho pouco, eu sei que tenho menos, eu sei que ninguém apostaria em mim. O outro dois ou o outro três pode não vir. Podem estar nas mãos de quem já saiu do jogo. Podem estar no monte.

Na mesa, no jogo, eu não sou ninguém. Eu sei. Não precisa me lembrar disso. Mas há uma chance, apenas uma chance.

Vira-se a última carta.

O tempo para antes que eu a veja. Já não sei mais se perdi ou se ganhei, mas eu apostei tudo e não me arrependo.

Pois não é sobre o quanto você pode ganhar, mas sobre o que está disposto a perder pelo bem de outro alguém.

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