segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Ágora Maldita.

Não faço o tipo supersticioso. Não tenho medo de passar por debaixo de escadas, não tenho lado do travesseiro favorito pra dormir, não me preocupo em entrar nos lugares com o pé direito.

Não acredito que exista um deus, muito menos vários.

Mas existe uma coisa que me assombra, que me assusta, que me amedronta. Algo sobrenatural, inexplicável. Me persegue durante o dia, me acorda no meio da noite.

É a minha maldição. Minha habilidade de me colocar em situações complicadas, meu magnetismo em relação aos piores lugares do mundo. Mesmo que esteja em dois pólos que deveriam em teoria se afastar, a maldição faz com que o impossível aconteça.

E cá estou de novo. Dizem que o Inferno é quente. Meu inferno é quente, abarrotado de gente cosmopolitana, cristã e de cabeça fechada, que te olha de cima abaixo. Pessoas que te encaram com um improvável misto de inveja e pena.

Eu nasci no inferno quando ele ainda era apenas uma Califórnia de papel machê, cidade Potemkin do sucesso. Existem cabeças que não se adaptam, elas são excluídas. No Inferno, não há espaço para quem pense diferente. Vista as mesmas coisas, leia os mesmos livros, compre os mesmos discos.

A oportunidade de escapar surgiu e fugi como sempre quis. Mesmo que eu fosse a personalização da incerteza, sempre achei que minhas aspirações exigiam saltos maiores. Mas o Inferno é imutável, ou você leva o estilo de vida dele, ou foge e busca seu espaço em outros lugares.

Porém pela segunda vez desci ao inferno. Talvez porque parte de mim nunca tenha saído do Inferno. Talvez porque parte do Inferno nunca tenha saído de mim. Evitar rostos conhecidos é uma estratégia para sobreviver por aqui. Eu preciso de gente que finge que gosta de mim tanto quanto preciso de dentes no meu rabo.

Morei muito tempo aqui, nunca me senti em casa, mas depois de sair é diferente. Uma vez que saí do inferno e vi o mundo, voltar aqui é extremamente desgastante. Sinto-me sufocado pela hipocrisia e ignorância que me cercam. É constante o receio de ter que trocar sorrisos falsos com pessoas que acham que fizeram parte da minha vida.

A maldição me trouxe de volta. Mas meu contrato com o demônio já está no fim.

Espero vocês no lado de fora, onde o ar é mais fresco e posso ser realmente quem sou.

"I hate this town
It's so washed up
And all my friends
Don't Give a fuck
They'll tell me that it's just bad luck
When will i find where i fit in?"

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