Já venho querendo escrever sobre isso há tempos, mas não soube como.
A história que relato é tão real quanto simbólica, uma das mais belas metáforas da minha vida até hoje. Então sente-se e prepare.
Eram sete e quarenta e cinco da manhã. Uma segunda feira, 29 de Abril desse ano. Eu subia para o trabalho como faço todos os dias úteis. Passada larga, um cigarro na boca e os fones nos ouvidos. Estava razoavelmente frio aquele dia, então levei também meu casaco.
Eu sempre passo por uma praça indo para o trabalho. Reduto de moradores de rua e usuários de droga. É bem suja e mal cuidada, não é um lugar nada agradável, mas como nunca liguei pra isso, continuo passando por lá até hoje.
E nesse dia, eu subia as escadas quando me deparei com algo, no mínimo, inusitado: um Gavião, de pé, na grama. Entre nós, menos de 3 metros de distância. Parei e quase deixei o cigarro cair da boca. Eu moro numa cidade grande, já vi Gaviões no céu, mas nunca tão de perto. Era o animal mais inusitado no lugar mais inusitado. Parecia que não era real.
E ali eu fiquei, encarando a ave e ela encarando de volta por alguns momentos, não sei quanto tempo ao certo. Quando pensei em fotografar o animal ele resolveu levantar vôo e desapareceu por entre as árvores.
Fiquei reflexivo o dia todo.
Todos os dias eu passo por lá. Dezenas de pessoas, talvez centenas também o fazem. E por pouco a belíssima ave não passa despercebida.
Isso me fez pensar: quantas pessoas não passaram por ali sem ver o animal? Quantas pessoas entenderiam isso que eu to dizendo? Onde está um pouquinho da nossa sensibilidade.
Pare e pense: quantas coisas belas da vida passam diante de teus olhos todos os dias e você simplesmente não as percebe?
Quanto de nós ainda vamos ter que perder pra aprender a ver o que realmente é importante?
E os anos vão passar, as coisas vão mudar, pessoas vão entrando e saindo da minha vida, mas eu nunca vou esquecer do Gavião que me fez parar por dois ou três minutos naquele dia pra tentar entender a beleza das pequenas coisas.
Agora eu entendo.
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