E desde o último verão, navego mares de hipocrisia. À deriva, tentado a beber da água salgada e sofrer o delírio dos marujos que são vencidos pela sede.
Não eu.
Não se paga na mesma moeda, eu sou um mercador emocional, pratico meu mercantilismo no amor e na vida: não quero só vingança, não quero só fazer pagar. Quero isso, mas também quero lucro. Quero sair com mais do que entrei. Porque fui eu que arquei com os custos dessa merda de fragata, eu convoquei marujos, eu contratei cartógrafos, eu demarquei as terras da costa de tudo aquilo conquistaríamos.
Mas se engana quem pensa que vou amargurar, endurecer-me e apodrecer como as bocas dos navegantes com escorbuto. Ainda sou o mesmo idealista que deixou a costa, ainda tenho os mesmos objetivos e valores, com ou sem você.
A minha fé é interior e egocêntrica. E não preciso mentir para ninguém ou me fazer de vítima: eu errei o caminho, me perdi. Mas não foi só culpa minha: os mapas eram imprecisos, as águas tempestuosas e o imediato totalmente covarde.
Mesmo assim, eu navego. O verdadeiro capitão jamais abandona o Navio. Ou completo a viagem ou naufrago com ele. Mas verdade é uma palavra que não faz parte do seu vocabulário.
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