Ele jamais pensou que fosse realmente inteligente. Nem esperto ao menos. Era do tipo que procurava suas chaves pela casa inteira para descobrir que estavam no seu bolso o tempo todo. Suas palavras vistosas e cheias de significado poderiam iludir muitos, menos ele mesmo. Se sentia tão comum que até seu pseudônimo apontava a verdade sobre sí: Médio.
A única coisa da qual Médio realmente se orgulhava sobre sí mesmo era a capacidade de entender e falar diversos idiomas. Além do português, o inglês, o francês, a língua dos toques, dos olhares, das palavras escondidas por trás das outras palavras. Médio te conhecia antes de ouvir a primeira palavra sair da sua boca.
Era uma habilidade rara e que ajudou a definir seu caráter.
Como quando sentiu o peso de todos os sermões apenas no olhar de desaprovação de seu irmão. Ou ainda quando sentiu o sereno desespero na voz de sua mãe camuflado por uma frase corriqueira, aquele protocolar "estou com saudades". Foi assim que leu a declaração de amor mais sincera de sua vida sem uma palavra, sem uma vírgula ou ponto final. Só bastou olhar no fundo dos olhos dela no momento em que acordaram e ele pode ver sua alma aberta. E ainda ficou hipnotizado pelo carisma do apelo de criança que só quer se divertir enquanto assistia sua dança em frente ao espelho.
E agora, ele entende, de novo, muito mais do que se diz.
E compreende que não há mais espaço para discursos não ditos.
Médio escreveu uma carta por trás dessa carta para dizer que está onde sempre esteve e que não vai sair tão cedo. Mas basta um olhar em falso para sair. No final, ás vezes só um "oi" é cheio de malícia. Só um "bom dia" vem pleno de segundas intenções.
E leu através das linhas. Tem mais carência do que saudade no tom da sua voz. E sua casa não está plena de alegria, não atravesse a rua para usurpar da minha.
Onde pode dar like aqui?! risos.
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