sábado, 14 de dezembro de 2013

Dois Mil e Treze

Vou tentar resumir esse ano que foi crucial, solitário e complicado. Talvez Dois Mil e Treze seja o divisor de águas, mas não consigo olhar pra frente e ver o futuro com bons olhos.


Janeiro

"Just stop and smell the stale stench wafting through the air
Let it wheeze right out of you
Cause you are lost and you no longer care
About the things you used to
You're fluid, unaware
We overflow going nowhere"



Fevereiro 

"Well i've been afraid of Changing
'Cause i've built my life around you
But time makes you bolder
Children get older
I'm getting older too"



Março

"You cried in Front of your friends
Jus to save some face
You 'didn't want it to end'
In just a week i'm replaced
You wouldn't listen, listen to me
But can you hear me now
You're just a sickness and the cancer
The cancer is your filthy mouth"



Abril

"Hate in these veins all again
And all that it leads to is sin
Fuck what you told me
it all leads to smoking
alone in my room in the end
And that's when i knew i was dead
Worried and sick from all that you've said
Thank God i'm leaving
All your Deceiving
You broke me with your ignorance" 



Maio

"One last desperate plea. One last verse to sing. 
One last laugh track to accompany the comedy.
Have I been losing it completely? Losing sanity? 
Or has it been fabricated, fashioned by the worst of me?
I know I knocked the table over because I watched the jar break 
and I’ve been trying to repair it every single stupid day 
But won’t the cracks still show no matter how well it’s assembled 
can I ever just decide to let it die and let you go?

All my motives and every single narrative below reflects 
that moment when it broke and will I never let it go
No matter what? Now I am throwing all the shards away, 
discarding every fragment, and fumbling uncertain towards a Curtain call 
that no one wants to happen, 
that no ones going to clap for at all, but that still has to be."



Junho


"I'm not sad anymore,
I'm just tired of this place,
And if this year would just end,
I think we'd all be okay"




Julho


"As they laid 
my bones down at the crossroads, I saw my ghost 
sell my soul to the inferno for petrol to get home. 
Now each day 
I sink a bit faster into my father's fate. 
Four packs a day. Four decades straight. 
Right to an unmarked grave. "


Agosto

"In the end it's not about what you have.
In the end it's all about where you want to go
And the roads you take to help you get there.
I hope you think that's fair
Cause you’ve only got one life to lead.
So don’t take for granted those little things.
Those little things are all that we have."


Setembro

"These vices, they double as a reason for the way we feel, the way we do.
Solitude in a family-filled living room.
And I, and I, I wish that they could see, 
The impact made on the children that they raised. 
(We share something I wish we didn't, 
we share something I wish that I could put to an end. 
This life of addiction led, the common thread.)"


Outubro

"E se não tem mais certeza de estar tudo bem
Eu não sou resposta de nada e nem de ninguém.
E nem sei muito bem o que eu faço aqui
Mas só não pude evitar de vir dizer olá"

Novembro


"She hopes I’m cursed forever to 
Sleep on a twin-sized mattress 
In somebody’s attic or basement my whole life,
Never graduating up in size to add another
And my nightmares will have nightmares every night
Oh, every night. Every night."


Dezembro

"You used to make me feel like I could walk on water
Now most nights I'm just sinking down and down
You're the reason why I can't listen to the same songs I used to
I write songs about you all the time
I bet I don't run through your mind..."



"It's been a lonely year"


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013



Ah, velhos amigos das poeiras cósmicas mais antigas, se soubessem que me jogaram com regras invertidas, sozinha, neste Planeta
 que passa por uma Era de caos em sua glândula pineal,
Onde até mesmo as tão procuradas belezas naturais estão recebendo as influencias dessa Guerra Entre Nós mesmos,
E que neste período de tempo, muitos se orgulham de participar,
Tantos são os diferentes estereótipos contaminantes
que já se enganam entre os amigos, entre nossa própria mente.
Joga-se sozinho e sem mapas, só deixam um cartaz dizendo para seguir em frente correndo contra os estados dormentes
que iniciam-se abandonados em um abismo escuro de mil metros com uma subida inconstante, mas gradual, que dura quase a vida inteira
É cheia de paradas inesperadas, inusitadas, inconvenientes  e perturbadas
Até que se mude degrau acima.
Ah, Se soubessem como a vida aqui é agitada, como a dita montanha russa funciona para todos os sentidos,
estampada na rosa dos ventos de qualquer horizonte
E por mais que não tenhamos a presença tão próxima dos imensos corpos celestes passando entre nós  e causando um show de Fogos de Artificios quando se chocavam com alguns vizinhos;
Nem as correntes elétricas diagonais de Monzalia 124 e nem as Grandes Marés de Ondas Radioativas
Sabemos que ela está lá, longe, acontecendo só onde os astronautas podem ir
E lá que o fundo de todos os corações querem chegar
E como poucos podem ser astronautas,
Começaram a sonhar que é o verdadeiro Mundo Inicial, a mais velha casa da existência,
Donde se alcança após a Morte,
Ou após a diária enganação da Morte, quando o corpo descansa e o espírito voa nos sonhos.
Ao destruirmos nossos átomos por um instante
Durante as tentativas de reconstrução

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Doze Anos

Queria escrever uma retrospectiva desse ano. Dois mil e treze foi um dos anos mais emblemáticos da minha vida. Mas para qualquer pessoa entender, precisaria primeiro fazer uma retrospectiva dos últimos doze anos e não dos últimos doze meses. Assim dá pra entender como eu me sinto em relação a tudo.

Assim, resolvi escrever doze pequenas histórias da minha vida que aconteceram nos últimos doze anos. É algo bem pessoal e talvez seja burrrice expor isso tudo aqui, mas eu não estou me importando. Na verdade, acho que o maior covarde é aquele que tem medo de que as pessoas descubram o que ele realmente pensa da vida. Posso ser burro, mas covarde eu não sou.

Enfim, lá vai

2001

Era feriado de Sete de Setembro, meus pais haviam acabado de se divorciar, passávamos o fim de semana prolongado num sítio da minha tia em Cajuru. Eu costumava brincar sozinho quando era criança, tinha uma porção de amigos imaginários e criava incríveis situações na minha cabeça. Não me julgue por isso, eu tinha nove anos de idade. Mas faço isso até hoje, agora pode julgar.

Eu subi numa das árvores do Pomar, sozinho, longe de toda a família e fiquei lá pensando na vida. Até cair no sono encostado num galho. Acordei algumas horas depois com todos desesperados me procurando. Acharam que eu tinha caído na represa, sido sequestrado ou coisa do tipo. Quer ver o quanto alguém te ama? Só pensa na cara da pessoa quando ela finalmente te encontra depois de achar que nunca mais iria te ver. Mas até hoje, duvido que alguém tenha me encontrado.

2002 

Eu estava na Quarta Série quando começamos a estudar os astros do nosso Sistema Solar. Foi quando notei que tinha pequenas obsessões. Primeiro, fiz questão de decorar o nome de todos os planetas. Depois, de todos os ossos do corpo. Depois, queria ouvir todos os discos das minhas bandas favoritas. Até hoje procuro saber tudo possível sobre qualquer coisa que eu goste ou não.

Muita gente acha que é nerdice, mania de querer pagar de sabichão, mas na verdade é como um vício. Pra cada fase da minha vida, tive uma pequena obsessão diferente. É quase uma dependência. Não consigo gostar de nada sem me aprofundar.

2003 

Então com onze anos, assisti "O Clube da Luta" pela primeira vez. Não entendi nada e achei o filme totalmente imbecil. O então "novo" Gangues de Nova York de Martin Scorsese era meu filme favorito e tive uma das minhas primeiras obsessões: gângsters. Com eles veio a obsessão por armas de fogo. Enquanto os outros garotos se divertiam com a matança desenfreada de Counter-Strike nas Lan Houses, eu achava mais divertido ver as armas e comparar seus modelos com os reais. Acredite ou não, isso foi muito determinante para o ponto de vista político que tenho hoje.

2004 
Também fui obcecado pelo sobrenatural. Minha mãe tinha (e ainda tem) muitas histórias sobre espíritos, fantasmas e assombrações. A que eu mais gostava era a dos quadros das crianças que choram. Aqueles mesmos do Bragolin e do Fantástico. Era fascinado e amedrontado pelos quadros. Tiraram meu sono por noites e noites, mas adorava conhecer mais e mais deles. Procure no Google que via achar. Hoje não acredito em porra nenhuma em relação a espíritos ou fantasmas e qualquer coisa, mas confesso que não consigo olhar por muito tempo pra nenhum daqueles quadros. Até hoje tenho medo de quadros de qualquer tipo. E de espelhos.

2005 

Era dezoito de Dezembro, meu ídolo máximo, Rogério Ceni só não vez chover no Estádio Nacional de Yokohama fechando o gol tricolor. Estávamos eu e um dos meus dois melhores amigos então, sentados na frente do Sofá e tirando as bolas da meta tricolor. Ele era Santista, mas por causa de mim, estava torcendo pro São Paulo naquele dia (O São Paulo Futebol Clube, é certamente, a maior das minhas obsessões). Depois do fim do jogo e muita festa, meu pai apareceu bêbado na porta de casa e minha mãe chamou a polícia. A maioria dos meus amigos viu meu pai pela primeira vez naquele dia. Algemado dentro de uma viatura.

2006 

O meu outro melhor amigo fazia aulas de violão comigo no ano de 2006. Toda Terça Feira voltávamos correndo da escola para recebermos o professor César na minha casa. Ali, num violão velho e com braço empenado, aprendi meus melhores acordes. Mas ele era melhor que eu tocando. No começo, tive muita dificuldade. Em meados de Maio, perto do meu aniversário, quis desistir. Ele brigou comigo e praticamente me obrigou a continuar. Somos melhores amigos até hoje. ainda somos músicos (embora, amadores) e agradeço a ele por não ter me deixado desistir de uma das coisas mais importantes da minha vida.

2007

O meu outro melhor amigo - O Santista - foi internado em estado grave com Lupus no Hospital das Clínicas do Campus da USP aqui de Ribeirão Preto no dia 16 de Dezembro de 2007. Minha mãe trabalhava lá e me ligou pra avisar. Disse que eu poderia visitá-lo se quisesse. Eu até podia, até queria, mas precisaria que meu pai me levasse e não quis pedir pra ele por um orgulho idiota pois tínhamos brigado naquela semana. Meu amigo morreu no dia seguinte e não tive a chance de vê-lo uma última vez. Meu maior arrependimento foi não ter feito a porra da visita. Nunca derrubei uma lágrima por isso, mas escrevo uma carta para ele todos os anos nessa data. Não acredito em vida após a morte, mas gosto de pensar que ele consegue ler.

2008 

Nessa época, minha mãe fazia Plantões à noite no hospital. Como eu estudava à tarde, a gente pouco se via dentro de casa e eu sentia muita falta dela. Então, toda noite, fazia uma garrafa de café e ficava acordado a madrugada inteira esperando ela chegar. De manhã, tomávamos café juntos (eu tinha que fazer outra garrafa para nós dois) e ela me contava sobre o trabalho e os causos estranhos do sexto andar do Hospital das Clínicas. EU dormia o resto da manhã e durante a aula (quando eu ia). Meu sono nunca mais foi o mesmo, mas não me arrependo nem um pouco. Hoje minha mãe mora em São Paulo e eu morro de saudades dela. E essa é a mais doce lembrança que tenho.

2009 

Elaborei, então, um plano detalhado para atirar em todos os colegas de classe do terceiro ano. Era tudo muito bem organizado. Eu havia até cronometrado o tempo que levava para sair do banheiro, andar pelo corredor e entrar na sala numa caminhada moderada. Tenho passos muito largos e ando muito todos os dias. Então estou habituado a contar isso. Eu tinha a ideia de fazer isso numa Quarta Feira onde a grade de horários ajudaria na excecução. Nunca fiz porque não tinha uma arma.

2010 

Meu aniversário de 18 anos foi o pior de todos eles. O ano de 2010, em si, foi uma porcaria. Mas teve um momento muito marcante na minha vida. Foi em Julho e eu estava assistindo um certo filme que quem manja conhece. E nesse filme um personagem dizia que conhecer o amargo lhe permitia saber apreciar o doce. Lembro que na época só consegui pensar: "To esperando conhecer o doce até hoje".

2011 
Eu voei pela primeira vez em 26 de Janeiro de 2011. Venci um dos meus maiores medos: a altitude. Consequentemente, ganhei meu maior medo desde então. Lá de cima, vendo o mundo tão pequeno, percebi como somos insignificantes. Então percebi que precisaria fazer algo grande da minha vida, algo que deixasse um legado para reverter a minha situação como insignificante. Até hoje, meu maior medo, é passar a vida como um anônimo qualquer que viveu e morreu sem grandes realizações, sem algo para ser lembrado. Apenas um número

2012 

No último dia de 2012, mais uma vez dentro de um avião, fiz a minha última oração. Há muito já não falava com Deus. Há certo tempo, já não acreditava mais Nele. Mas pedi, desesperadamente, que derrubasse aquela aeronave. Como sempre, minha prece não foi atendida. De fato, 2012 foi um ano péssimo na minha vida e, pela primeira vez, senti-me derrotado e sem esperança alguma. Na verdade, até hoje, não sei se alguma coisa mudou de lá pra cá. Ainda nesse mesmo dia, vi a casa que morei por um ano e meio vazia, escura e desabitada. Soube, então, que poderia voltar a morar lá, mas eu também sabia que não seria mais a mesma casa, nada mais seria o mesmo. E senti vontade de incendiar aquela casa só pra não ter aquele souvenier da vida perfeita de outrora. O ideal mesmo, seria o avião, comigo à bordo, ter caído sobre a casa.

Basicamente, essa é minha vida entre 2001 e 2012. Esses doze anos marvilhosos e cheios de aventura com os quais presenteio vocês.

E, no final, tanto faz mesmo

sábado, 7 de dezembro de 2013

A Zona de Conforto

Então me diga: quando foi que resolveu parar a sua vida?

Há anos escondido debaixo da própria pele de onde ouve o mundo la fora apenas como um sussurro incompreensível, mas capaz de de comprimir cada nervo do seu corpo.

Trancado aí, dentro de si mesmo, prefere esperar. Sem nunca se mostrar de verdade por medo de não atender as expectativas, você julga e aponta o dedo de dentro do seu bunker pessoal. Sem se mostrar de verdade, se sente sufocado pela própria necessidade de se esconder, mas também não quer sair porque sabe que lá fora é perigoso.

E a cada dia você morre um pouco mais tentando impedir a própria morte, tentando não correr riscos. EStá seguro dentro da própria pele, mas encarcerado pelo próprio medo.  Como uma maldita zona de conforto onde se sente seguro em não ser você mesmo

A mesma prisão que te tortura é que te protege de si mesmo.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

...

I just... don't know how to be untrue anymore
And all the feelings I can't deny didn't have been passed by the filter of modern ages with sucess Because this filter no longer exist inside me
And doesn't matter If the entire world asks the opposite Because the only way to be true is to deny and to refuse
And more you hidden your true feelings about how sensitive u could be More smart and sucessful u will be
I just don't care if someone explode me cuz I'm on the opposite way
Don't care if they finnish everything cuz it's real
Cuz I can't accept this fake shit about phisic comportament
Cuz I can't accept that the real feelings of our heart no longer exist
Cuz the reality among these futile humans is being proud of emptiness
It is a shame to deny and these people don't deserve any respect

They just deserve shut their mouths full of shit and open their ears and their hearts again
And all torture of this world is enough to see the cause of their blindness

Maybe this way The cure of all the planet can appears
Like a miracle that everyone asks..
But nobody feels

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

As Sete Pontes de Konigsberg

Hyde

Passamos o dia todo discutindo a ciência, a política e a religião. Fingindo que conhecemos qualquer coisa para não admitir que não conhecemos nós mesmos. Cigarro após cigarro, o tempo passou até que você citou a questão Konigsberg.

Uma cidade onde haviam Sete Pontes e muitas pessoas se perguntavam se era possível visitar toda a cidade e voltar para casa passando apenas UMA vez por cada uma das pontes. Me desafiou a resolver o problema matemático e geométrico. Passei dias quebrando a cabeça. Não para resolver o desafio, todos sabemos que não existe resolução - o número de Pontes é ímpar, o número de regiões da cidade é par, é impossível resolvê-lo - O desafio de verdade estava em entender o que quis me dizer com isso.

Se eu sou você, sei de tudo o que você sabe. E sei que encontrou esse desafio por mera coincidência. Sonhou com as Sete Pontes e pesquisou sobre qualquer coisa relacionada. Achou a história e ela fez sentido para você.

De qualquer forma, vamos ter que passar duas vezes por alguma das pontes. É inevitável. A minha maior dúvida é o que levou você a me mostrar aquilo. Você sempre quer me dizer alguma coisa com esses desafios e charadas.

Mas hoje, finalmente entendi.

Na nossa vida, temos que seguir em frente. Mas para encontrar nosso lar, precisamos, muitas vezes, passar duas vezes pelo mesmo caminho, repetir os mesmos erros, viver as mesmas experiências. Então aprendi essa importante lição, mas tendo noção do raciocínio mais profundo de todo o problema matemático:

Você ainda pode explodir uma das pontes.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Intocável

Eu tinha onze ou doze anos na primeira vez que assisti "Os Intocáveis" de Brian de Palma. Fiquei encantado pelo universo de gangsters, policiais, lindas donzelas, belos chapéus, longos casacos. Engraçado como tudo que remete à primeira metade do Século XX parece glamouroso, bonito, saudoso. Ainda mais quando todo esse enredo é esculpido e delineado pela enigmática e bela trilha de Ennio Morricone que já havia pintado, com notas e não com o pincel, a tensa atmosfera de "Era uma Vez no Oeste".

Desde então, me encantei com os Gangsters de De Palma e também com os mocinhos da década de 30, com a história de homens como Al Capone e John Dillinger. Ou  ainda Melvin Purvis. Nunca quis ser um "Inimigo Público" ou um homem da lei, mas invejava a coragem de homens capazes de andar na contramão de tudo. Capone morreu na prisão, Dillinger foi morto pela polícia e Purvis cometeu suicídio.

Embora suas vidas não tenham finais tão felizes na vida real, todos viveram no limite entre a lei, a moral e a ambição. Eram homens sem medo e, embora mortos, pode-se dizer que, historicamente, seguem intocáveis. Reproduzidos, imitados e ilustrados na cultura popular graças à sua coragem, ousadia e até mesmo ausência de apreço à vida, heróis e vilões como esses marcaram seu nome na história.

E é dessa falta de apreço à vida que eu estou falando.

Nos últimos doze meses, tenho andado às margens da vida, sobre estreitos trilhos de metal e madeira sem me importar se algum trem vai me atingir.

Na verdade, eu consideraria até bom se acontecesse.

Vou e volto à noite nas ruas escuras da cidade sem me preocupar com qualquer coisa que possa acontecer. Mais do que isso: eu espero que algo realmente aconteça. Talvez um motorista bêbado perdendo o controle do seu carro, subindo o meio fio e me esmagando contra a parede. Ou um assaltante que resolva levar mais do que minha carteira e meu celular. Eu quase imploro para que me encontrem apagado no passeio, como uma mancha para a qual ninguém quer olhar. Como quando queimei o sofá com meu cigarro e me sinto melhor ignorando a marca preta e esférica no braço do sofá. É bem mais fácil ignorar. E se eu fosse escolher como morrer, seria assim, a saída trágica, o que sobrasse de mim repousaria sobre o pavimento da calçada cercado de policiais, bombeiros e do médico legista.

As mães passariam do outro lado da rua com seus filhos e cobririam seus olhos. A família desesperada com a notícia. Os jornais vendendo a tragédia a quem queira.

"Um rapaz tão jovem, tão cheio de ambições, ainda tinha a vida inteira pela frente."

Mas a verdadeira tragédia é que isso nunca acontece. Sempre chego vivo em casa, tudo acontece 5 minutos antes ou 5 minutos depois de eu estar presente.

Eu não falo com Deus. Não temos uma relação muito boa. Mas me lembro de nossa última conversa. Foi a bordo de um avião ainda decolando no aeroporto em Guarulhos no ano Novo do ano passado. Assim que a aeronave deixou o chão, me curvei e rezei pela primeira vez em muitos anos. E pedi, humildemente, encarecidamente, que Deus derrubasse aquela aeronave. Foi a mais esquisita e minhas preces, mas o resultado foi bem igual a todas as outras: foi totalmente ignorada.

De certa forma, me sinto intocável. Nunca nada de "ruim" me aconteceu. Nunca quebrei uma perna ao cair de bicicleta e nem tive que levar alguns pontos no queixo depois de escorregar na garagem. Nunca fui assaltado, nunca acordei numa cama de hospital com uma sonda no meu pau depois de ser atingido por um carro a 90 Km/h. E o mais irônico disso tudo é que eu queria essa tragédia, eu espero ela todos os dias por isso, eu imploro, eu suplico. Hoje, seria a única coisa capaz de me fazer sentir vivo.

Mas sou ignorado. Pois sou invisível. Sou intocável.

As pessoas morrem todos os dias das maneiras mais estúpidas. Me contaram que máquinas de refrigerante matam mais do que ataques de tubarão. E só consigo pensar "PORRA, como alguém é morto por uma máquina de refrigerante?".

Eu ainda tenho minhas longas caminhadas tarde da noite, esperando algo acontecer, esperando qualquer sinal que me faça ter apreço por qualquer coisa. Quero chegar perto e implorar pela vida, perceber que na verdade ela é importante e que eu não estou tão indiferente quanto à tudo e quanto à todos. Mas nada acontece. Enquanto isso, alguém escorrega no banheiro e quebra o pescoço. Crianças se afogam em bacias, jovens da periferia são alvos de balas perdidas. E nenhum deles queria isso.

Esse é o preço de ser Intocável. Assistir isso tudo alheio ao mundo. 

Esse é o fardo que eu carrego todos os dias: ter uma casa e nunca se sentir em casa, estar vivo e nunca se sentir vivo, ter o que comer e nunca me sentir satisfeito, ter motivos pra chorar e nunca derramar uma lágrima, ter motivos para rir e nunca ficar feliz. Esperar uma tragédia e ela nunca chegar.

E ainda não entendo como alguém pode ser morto por uma máquina de refrigerante.